Em 1843, os pesquisadores se depararam com fósseis de um ser que desconcertaria a comunidade científica por gerações: o Prototaxites. Esse organismo foi o primeiro a habitar as terras secas, superando as limitações dos pequenos musgos e plantas do período Devoniano, cerca de 410 milhões de anos atrás.
Com sua altura de até oito metros, o Prototaxites não só se destacava por seu tamanho impressionante, mas também por suas características biológicas e estruturais, que não se encaixavam claramente em nenhum dos reinos conhecidos. Desde então, as especulações sobre sua verdadeira natureza, se seria uma planta, um fungo gigante, uma alga ou algo completamente diferente.
Recentemente, um novo estudo abalou ainda mais as certezas, levantando o debate sobre se o Prototaxites pode representar uma linhagem completamente extinta, à parte de tudo que conhecemos.
Prototaxites
O período Devoniano, cerca de 410 milhões de anos atrás, foi um momento decisivo na história da Terra. Os oceanos eram o centro da vida, e o solo seco, ainda inóspito, era habitado apenas por plantas diminutas, com no máximo 6 centímetros de altura.
Foi nesse cenário que surgiram os Prototaxites, organismos com até 8 metros de altura, formando verdadeiras florestas no solo terrestre. Esse tamanho impressionante não era apenas uma curiosidade, mas sim uma grande inovação ecológica para a época.
Fósseis de Prototaxites foram encontrados em várias partes do mundo, sendo o principal ponto de estudo a jazida paleontológica de Cherte de Rhynie, uma área rica em fósseis que foi preservada por depósitos vulcânicos.
Os Prototaxites eram uma presença dominante nesse ecossistema antigo e poderiam ser observados ao lado de musgos e pequenas plantas que colonizavam a terra. Contudo, até hoje, permanece um grande enigma sobre sua classificação biológica.
Teoria dos fungos
Por muitos anos, os cientistas consideraram o Prototaxites como um tipo de fungo gigante. Isso se deve ao fato de que suas estruturas microscópicas apresentavam semelhanças com os fungos modernos, como o fato de serem compostos por tubos.
Além disso, alguns estudos apontaram para uma relação com os fungos da família Ascomycota, um dos grupos mais diversificados e complexos do reino Fungi.
Em 2018, pesquisadores chegaram a essa conclusão ao analisar fósseis de uma variante menor do Prototaxites, o Prototaxites taiti. Esses fósseis apresentavam uma anatomia semelhante à dos fungos, incluindo uma estrutura de tubos e uma composição química que poderia ser relacionada aos fungos.
Assim, a ideia de que o Prototaxites fosse um fungo gigante parecia ser a explicação mais plausível.
Um organismo de uma linhagem extinta
No entanto, recentemente, um novo estudo revisitou os fósseis de Prototaxites taiti e trouxe uma nova perspectiva para essa questão. Uma equipe de cientistas analisou de forma mais aprofundada a composição celular e a estrutura dos restos mortais, chegando a uma conclusão que abalaria as ideias previamente estabelecidas.
Os pesquisadores descobriram que o Prototaxites não apresentava os compostos típicos encontrados nas paredes celulares dos fungos, como a quitina, quitosana ou beta-glucana. Esses elementos, essenciais para a estrutura dos fungos modernos, estavam ausentes nos fósseis de Prototaxites.
Além disso, a equipe observou que a composição dos tubos microscópicos que formavam o Prototaxites não correspondia a nenhum dos tipos conhecidos em fungos existentes ou extintos.
As características observadas, como as manchas medulares e a estrutura dos tubos, eram completamente distintas de qualquer outro organismo já catalogado. Por esses motivos, os cientistas chegaram à conclusão de que os Prototaxites não pertencem ao reino Fungi, como se pensava anteriormente.
Uma linhagem extinta da árvore da vida
Após examinar a anatomia e as características do Prototaxites em comparação com outras formas de vida conhecidas, os pesquisadores propuseram uma teoria audaciosa: o Prototaxites representava uma linhagem única que já não existe mais e que não se encaixa em nenhum dos reinos conhecidos da vida.
Ou seja, o Prototaxites não seria um fungo, uma planta ou uma alga, mas sim uma forma de vida completamente distinta, que não se adaptou ao longo do tempo, desaparecendo no curso da evolução.
A equipe argumenta que o Prototaxites não foi capaz de se adaptar e preencher os nichos ecológicos ao seu redor, o que pode ter levado ao seu desaparecimento. Embora os outros organismos da época, como musgos e pequenas plantas, tenham dado origem a linhagens sobreviventes, o Prototaxites permanece isolado, sem analogias claras em qualquer organismo atual.
Com cada nova descoberta, ele nos lembra que, na ciência, as perguntas nunca são definitivas, e as respostas estão sempre abertas à revisão, ao debate e à nova descoberta.