Nem sempre é fácil lidar com pessoas desconhecidas. Em muitas situações, somos obrigados a tomar decisões rápidas sobre quem merece nossa confiança. Quando faltam informações concretas, recorremos a pistas externas, como a forma de vestir, o tom de voz ou a linguagem corporal.
Entre esses sinais, um em particular tem chamado a atenção da ciência: a postura. Um novo estudo liderado pelos pesquisadores Soren Wanio-Theberge e Jorge Armony, da Universidade McGill, sugere que a maneira como alguém se posiciona fisicamente pode revelar muito sobre sua personalidade, inclusive traços manipuladores.
A linguagem corporal como ferramenta de julgamento
A linguagem corporal é uma extensão silenciosa de nossos pensamentos e emoções. Muitas vezes, o corpo expressa sentimentos e intenções antes mesmo que palavras sejam pronunciadas.
Posturas, gestos e expressões faciais podem fornecer informações importantes sobre o estado emocional e mental de uma pessoa. Quando se trata de manipulação, a postura pode ser usada como um instrumento sutil, porém eficaz, de domínio e influência.
O estudo da Universidade McGill
Os pesquisadores canadenses analisaram o comportamento postural de centenas de jovens adultos em diferentes contextos, reunindo dados fisiológicos e psicológicos. Os resultados mostraram uma relação clara entre determinados tipos de postura e traços considerados manipuladores ou psicopáticos.
Por exemplo, pessoas que mantinham uma postura ereta, com ombros abertos e peito projetado para frente, apresentaram pontuações mais altas em características como dominância, competitividade e tendência à manipulação.
Sinais posturais associados à manipulação
Indivíduos com traços manipuladores tendem a adotar posturas expansivas, que ocupam mais espaço e sugerem confiança excessiva. Essa postura ereta e aberta comunica ao ambiente uma posição de controle, até mesmo superioridade.
O curioso é que essas posturas não são aleatórias ou circunstanciais, o estudo mostrou que elas permanecem consistentes ao longo do tempo, funcionando como uma marca registrada dessas personalidades. Em situações sociais, esses indivíduos preferem manter uma imagem de força, mesmo que isso demande esforço físico e desconforto.
A submissão também se expressa no corpo
Em contrapartida, pessoas menos propensas à manipulação geralmente exibem posturas mais contraídas. O tronco levemente curvado, os ombros fechados e a inclinação do corpo para frente sinalizam recuo, prudência ou insegurança.
Isso não significa necessariamente fraqueza, mas pode indicar uma tendência a evitar confrontos ou a priorizar o bem-estar coletivo sobre interesses individuais. Essas pessoas apresentam maior flexibilidade postural, alternando naturalmente entre diferentes formas de se posicionar, sem a necessidade de sustentar uma imagem rígida de autoridade.
A influência da biologia e da evolução
A pesquisa também faz referência a estudos sobre o comportamento de mamíferos, demonstrando que certas posturas são herdadas biologicamente. A postura lordótica, por exemplo, observada em fêmeas de diversas espécies, é associada à receptividade sexual e comunicação de disponibilidade.
Do mesmo modo, posturas que indicam expansão ou recolhimento do corpo têm valor evolutivo, uma vez que transmitem sinais de ameaça, dominância ou submissão de forma quase universal.
A hierarquia e a necessidade de dominar
Um dos aspectos mais intrigantes da pesquisa é a relação entre postura e desejo de ascender em hierarquias sociais. Indivíduos com traços manipuladores geralmente não toleram posições subordinadas e, por isso, utilizam a linguagem corporal como uma forma de se impor.
Adotar uma postura ereta e dominante passa a ser, nesse caso, uma estratégia consciente ou inconsciente de garantir vantagem, intimidar e manter o controle. Esse comportamento cria um ciclo de retroalimentação, no qual o corpo reforça a mentalidade dominante, e vice-versa.
Exceções à tegra
É importante reconhecer que nem toda postura dominante está ligada à manipulação. Pessoas que praticam esportes ou atividades que exigem consciência corporal, como dança, artes marciais ou yoga, podem naturalmente manter posturas mais eretas sem qualquer relação com traços negativos de personalidade.
Além disso, fatores como idade, saúde e contexto cultural influenciam significativamente a postura de cada indivíduo. O próprio estudo reconhece suas limitações, como a predominância de jovens universitários na amostra, o que restringe as conclusões a determinados grupos populacionais.
Cuidados ao interpretar a postura
Apesar das descobertas empolgantes, os autores do estudo alertam para o perigo de interpretar a postura de forma isolada. A linguagem corporal deve ser avaliada em conjunto com outros comportamentos, expressões faciais e aspectos contextuais.
Rotular alguém como manipulador apenas pela forma como se senta ou caminha pode levar a julgamentos injustos e preconceituosos. A ciência oferece uma lente útil para enxergar padrões, mas a complexidade humana exige análise cuidadosa e empatia.
Observar atentamente como alguém se posiciona pode nos ajudar a proteger nossos próprios limites e tomar decisões mais conscientes em nossas interações. Mas acima de tudo, é necessário lembrar que, por trás de cada postura, existe uma história, e nem toda rigidez corporal esconde uma mente manipuladora.
