O bocejo é um comportamento tão comum que, muitas vezes, nem paramos para refletir sobre ele. Mas, ao observarmos alguém bocejando, é quase certo que acabemos fazendo o mesmo, criando uma espécie de “efeito dominado” de bocejos. Mas por que isso acontece? A ciência tem algumas respostas interessantes sobre esse comportamento involuntário.
Bocejar é uma ação involuntária do corpo, normalmente associada ao cansaço ou ao tédio, mas com funções que vão além do simples “sono”. De acordo com Raúl Santo de Oliveira, fisiologista da Universidade Federal Paulista (Unifesp), uma das principais teorias para o bocejo é que ele ajuda a aumentar o nível de oxigênio no corpo.
Quando bocejamos, o ato faz com que a nossa frequência cardíaca aumente e nos preparemos para uma situação de maior alerta. Isso ocorre porque o bocejo é uma forma de reativar o sistema, mantendo-nos atentos.
Bocejar antes de dormir
É comum bocejarmos à noite, antes de dormir. Esse importante, segundo o especialista, tem a ver com um mecanismo de resistência ao sono. O bocejo, nesse caso, seria uma tentativa do corpo de se manter alerta, mesmo diante da fadiga crescente. Isso é especialmente visível quando tentamos nos esforçar para concluir uma tarefa ou ficar acordado por mais tempo.
Agora, vem a parte mais curiosa: por que bocejamos ao ver outra pessoa bocejando? A resposta está relacionada aos neurônios-espelho, células responsáveis por imitar e registrar comportamentos comuns. Esses neurônios são ativados sempre que observamos outra pessoa realizando uma ação, como bocejar.
Ao perceber que alguém bocejou, nossos neurônios-espelho nos “forçam” a fazer o mesmo, muitas vezes sem que tenhamos controle sobre o ato. Mesmo que tentemos evitar, o bocejo começa de forma involuntária.
Bocejo e a relação interpessoal
Curiosamente, o contexto social tem grande influência sobre o bocejo contagioso. Estudos indicam que somos mais propensos a bocejar quando vemos pessoas com quem temos um vínculo afetivo, como amigos ou familiares, bocejando. Isso pode ser explicado pela conexão emocional e pelo desejo de compartilhar experiências e comportamentos com quem nos sentimos próximos.
Por outro lado, quando uma pessoa que boceja é alguém com quem não temos uma relação próxima ou até temos uma antipatia, o reflexo de bocejar não acontece com a mesma intensidade. De acordo com Oliveira, isso pode ser uma maneira inconsciente de evitar demonstrações de alguém com quem não nos relacionamos bem. O cérebro, então, “bloqueia” o bocejo, já que ele poderia ser interpretado como uma forma de empatia ou conexão com aquela pessoa.
Bocejo como sinal de empatia
A empatia está intimamente ligada ao comportamento de bocejar ao ver outra pessoa fazendo o mesmo. O bocejo contagioso pode ser interpretado como uma forma de espelhamento social, onde, ao imitar o comportamento do outro, também compartilhamos uma resposta emocional. Essa observação tem sido treinada em diversos contextos, e a empatia desempenha um papel importante em situações em que as pessoas se conectam de maneira mais profunda.
Por isso, bocejar ao ver outra pessoa bocejando pode ser um reflexo do que estamos, de alguma forma, nos identificando com aquele indivíduo e sua experiência naquele momento.
Além dos fatores já mencionados, o bocejo também pode ser influenciado por diversos outros fatores. Em ambientes mais relaxantes ou monótonos, como ao assistir a um filme ou ouvir uma palestra sem grande emoção, o bocejo se torna ainda mais contagioso.
Quando um grupo de pessoas se encontra em uma situação de relaxamento, como uma reunião longa ou uma sessão de cinema, o bocejo de uma pessoa pode desencadear uma ocorrência de outras, criando uma sequência de bocejos no ambiente.
Portanto, na próxima vez que você bocejar ao ver alguém fazendo o mesmo, lembre-se de que seu corpo está reagindo de maneira natural a um sinal de alerta coletivo, muitas vezes impulsionado pela empatia e pela tentativa de se alinhar com o grupo.