A população brasileira, segundo projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atingirá seu pico em 2041. A partir deste ano, a tendência é que comece a decair de forma considerável.
Essa mudança já era esperada, mas agora acontece seis anos antes do previsto, segundo os dados do IBGE, que recalcularam a projeção devido ao Censo 2022. A principal razão para essa mudança é o envelhecimento acelerado da população, algo que já está refletido no aumento expressivo do número de idosos no país. Este fenômeno tem uma série de implicações para o mercado de trabalho, a economia e o sistema previdenciário.
Envelhecimento acelerado da população
A mudança na dinâmica demográfica do Brasil é clara. O aumento do número de idosos é um reflexo direto da queda nas taxas de fecundidade e do aumento da longevidade. O Censo de 2022 revelou que o número de pessoas com 65 anos ou mais cresceu 57,4% desde 2010, saltando de 14 milhões para 22,1 milhões.
As pessoas estão tendo menos filhos, e isso é um reflexo de uma série de fatores, como a maior participação das mulheres no mercado de trabalho, a mudança no perfil de vida e o adiamento da maternidade. Essa queda na fecundidade e o envelhecimento populacional têm efeitos profundos, não só na estrutura familiar, mas também na economia como um todo.
Impactos no mercado de trabalho
Uma das consequências mais imediatas dessa mudança será a redução da força de trabalho disponível. Como há menos jovens nascendo, as gerações futuras terão um número reduzido de pessoas em idade ativa.
O analista do IBGE, Jefferson Nascimento, destaca que, embora o Brasil ainda possua uma grande parcela da população jovem, esse problema se tornará mais pronunciado a partir de 2041, quando o número de pessoas em idade produtiva começará a diminuir de forma acentuada.
Nos próximos anos, no entanto, ainda haverá uma grande demanda por trabalho jovem, dado que o desemprego estrutural é uma realidade no país. Contudo, setores que demandam menos tecnologia, como varejo, serviços e construção, podem ser mais impactados, já que esses tendem a depender mais de mão de obra humana e menos de automação.
O papel da tecnologia na adaptação ao novo cenário
Diante da escassez de mão de obra jovem, a tecnologia se apresenta como uma ferramenta fundamental para compensar a falta de trabalhadores. A automação e a inteligência artificial podem ajudar a diminuir a dependência de pessoas em alguns setores, melhorando a produtividade e suprindo lacunas de trabalho.
No entanto, como observa Davi Lelis, sócio da Valor Investimentos, o Brasil ainda está distante de ser uma potência tecnológica, o que exige um esforço significativo para impulsionar inovações que possam minimizar os impactos da queda da população trabalhadora.
Além disso, a adaptação do mercado de trabalho terá que passar por uma reconfiguração para incluir um número crescente de pessoas mais velhas, que estarão mais presentes na força de trabalho. O mercado precisará se ajustar para acolher profissionais mais velhos e com mais experiência, mas também terá que lidar com o desafio de incorporar novas gerações, como a geração Z, que possui habilidades digitais mais refinadas.
A previdência e seus desafios
Outro ponto crítico que o envelhecimento populacional coloca em destaque é o sistema previdenciário. Com uma população economicamente ativa menor, a arrecadação para o INSS tende a cair, criando um desequilíbrio no financiamento da previdência. Isso pode levar a um aumento da carga tributária para os trabalhadores ativos ou a uma revisão nas condições de aposentadoria, com benefícios menores e um tempo maior de contribuição.
Roberto Nascimento, economista e professor do IBMEC, já aponta que a situação pode gerar um novo colapso no sistema previdenciário, exigindo novas reformas. Com a aposentadoria se tornando cada vez mais insustentável, especialistas como Gean Duarte sugerem que os brasileiros comecem a buscar alternativas para complementar sua renda na aposentadoria, já que depender exclusivamente da previdência pública pode não ser suficiente para garantir uma velhice digna.
Impacto econômico da queda populacional
A redução na população ativa também afetará o consumo de bens e serviços. Com uma população menor e mais velha, a demanda por determinados produtos diminuirá. Além disso, a redução no número de consumidores pode afetar negativamente o crescimento econômico, especialmente em setores como o varejo e os serviços. Isso cria um ciclo de baixa produção e menor demanda que pode afetar diretamente a competitividade do Brasil no cenário global.
Por outro lado, a escassez de mão de obra pode gerar uma disputa acirrada por talentos, o que pode levar ao aumento da competitividade no mercado de trabalho e, consequentemente, à elevação dos salários. Isso pode ter um impacto tanto positivo quanto negativo na economia. Enquanto as empresas podem ter que aumentar salários e benefícios para atrair e reter trabalhadores, também podem enfrentar uma desaceleração na produção devido à falta de trabalhadores qualificados.
Caminhos para o futuro
Para o Brasil lidar com esses desafios, é necessário um conjunto de ações que envolvam tanto políticas públicas quanto iniciativas privadas. Em primeiro lugar, o Brasil precisa investir em educação e capacitação de sua população jovem, para garantir que, mesmo com uma diminuição do número de pessoas, as gerações mais novas estejam preparadas para ocupar as vagas no mercado de trabalho.
Além disso, é imprescindível que o país se concentre em estimular a inovação e o desenvolvimento tecnológico para reduzir a dependência de mão de obra humana e aumentar a produtividade. O Brasil também deve considerar formas de melhorar a qualidade de vida da população idosa, garantindo que esses indivíduos possam permanecer ativos no mercado de trabalho por mais tempo, sem que isso prejudique sua qualidade de vida.
A adaptação ao novo cenário também exige reformas no sistema previdenciário, de modo a torná-lo mais sustentável e justo para as gerações futuras.
O caminho para o futuro será, sem dúvida, desafiador, mas com planejamento e inovação, o país pode garantir que esse declínio populacional não resulte em uma crise irreversível.