A Polícia Federal realizou uma operação que revelou um esquema complexo envolvendo uma empresa com suposta fachada localizada em um abrigo de ônibus no Amazonas. O caso ganhou repercussão nacional após a apreensão de R$ 1,25 milhão em uma mala, com suspeitas de irregularidades que permeiam negócios públicos e privados.
No dia 20 de maio de 2025, a Polícia Federal interceptou três empresários no Aeroporto Internacional de Brasília. Entre eles estava Cesar de Jesus Glória Albuquerque, apontado como sócio de uma empresa “faz-tudo” com endereço questionável e movimentações financeiras suspeitas.
Endereço fantasma e ausência física da empresa
A empresa CJ Comércio de Produtos Alimentícios, ligada a Cesar, consta oficialmente com endereço na comunidade Nova Jerusalém, município de Presidente Figueiredo (AM). Contudo, imagens recentes do Google Maps indicam que o local é apenas uma parada de ônibus às margens da BR-174, Km 179, sem qualquer estrutura empresarial visível.
Essa descoberta chamou a atenção da PF, que não encontrou vestígios físicos da empresa em suas diligências, reforçando as suspeitas de que a empresa seria uma fachada para outras operações financeiras.
Diversidade de atividades
O Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) da CJ Comércios e Serviços revela uma lista extensa de atividades registradas, com mais de 40 Cnaes diferentes. A principal é o comércio varejista de mercadorias, especialmente produtos alimentícios, mas a empresa também atua em setores variados:
- Alimentação
- Vestuário
- Manutenção de máquinas
- Construção civil
- Papelaria
- Veterinária
- Arquitetura
- Agência de viagens
- Serviços funerários
Essa pluralidade chamou a atenção dos investigadores, que viram indícios de dispersão para encobrir a real atividade da empresa.
Situação financeira e patrimonial
De acordo com a Polícia Federal, a empresa tem um capital social declarado de R$ 2,5 milhões e possui uma frota significativa, incluindo três micro-ônibus, uma caminhonete e uma retroescavadeira.
Surpreendentemente, a PF constatou que a empresa não possui funcionários registrados, o que levanta dúvidas sobre a operacionalidade real do negócio.
Depoimento do empresário Cesar de Jesus
Em seu interrogatório, Cesar afirmou ser proprietário da empresa desde 2018, declarando uma renda mensal média de aproximadamente R$ 20 mil. Ele alegou que os principais contratos da empresa são com prefeituras do Amazonas, onde a empresa supostamente realiza serviços diversos.
Sobre os veículos, afirmou que possui cinco micro-ônibus usados para transporte escolar, e que estava em Brasília para avaliar a compra de dois veículos localizados em Goiás, sem saber a localização exata dos mesmos.
Contrato com prefeitura e relacionamento com o poder público
A investigação identificou que em julho de 2021, a empresa foi contratada pela Prefeitura de Presidente Figueiredo para manutenção de botes aquáticos, com um contrato no valor de R$ 130 mil para prestação de serviços em seis meses.
A inclusão do código Cnae para manutenção de embarcações possibilitou essa contratação, ilustrando o vínculo da empresa com serviços públicos municipais.
A ausência de funcionários e a diversidade atípica das atividades da empresa levantam suspeitas sobre a existência de uma estrutura fictícia para movimentações financeiras ilegais.
A apreensão da grande quantia em dinheiro, sem documentação clara, reforça a possibilidade de lavagem de dinheiro ou corrupção.
A Polícia Federal mantém a investigação aberta para aprofundar a análise do funcionamento da empresa e as relações com agentes públicos. Novas prisões e medidas judiciais podem ocorrer conforme surgirem provas adicionais.