Recentes estudos conduzidos por cientistas do Reino Unido e da Índia revelam que o canto dos grilos da espécie Oecanthus henryi vai muito além da simples atração de parceiros, funcionando como uma verdadeira propaganda dos machos para as fêmeas.
Enquanto isso, no Brasil, pesquisadores alertam para a necessidade de mais estudos sobre esses insetos, especialmente na região amazônica, onde fatores como a luz e o som urbanos podem comprometer sua sobrevivência.
O canto dos grilos e a seleção natural
Os cientistas britânicos e indianos descobriram que o canto dos grilos Oecanthus henryi varia em frequência e intensidade de acordo com o tamanho do inseto e a velocidade com que esfregam as asas.
As frequências captadas nos experimentos variaram entre 2,3 e 3,7 kHz, desafiando a ideia de que apenas grilos maiores poderiam emitir sons mais potentes. Modelos computacionais indicaram que grilos menores também conseguem produzir cantos fortes ao aumentarem a velocidade de atrito das asas.
De acordo com o entomólogo Rex Cocroft, que comentou o estudo, essa descoberta pode impactar o entendimento sobre a seleção de parceiros na natureza. Quanto mais rápido for o canto do grilo, maiores são as chances de sucesso na conquista da fêmea.
Os pesquisadores agora buscam compreender com mais profundidade o significado desses cantos e como eles influenciam o comportamento reprodutivo da espécie.
Grilos na Amazônia
No Brasil, estudos sobre grilos ainda são escassos, especialmente na região amazônica. O entomólogo Gustavo Tavares, da Universidade Federal do Pará (UFPA), destaca que a maioria dos registros dessas espécies ainda se limita ao nível nacional.
Segundo ele, os grilos amazônicos possuem colorações adaptadas ao ambiente: aqueles que vivem no solo tendem a ser marrons ou pretos para se camuflarem entre folhas secas, enquanto os que vivem nas árvores possuem tons esverdeados para se misturarem às folhas.
Já o pesquisador Riuler Acosta alerta que a interferência humana representa uma grande ameaça às populações de grilos. Isso porque, a poluição sonora das cidades pode atrapalhar a comunicação desses insetos, reduzindo suas chances de encontrar parceiros e comprometendo a perpetuação da espécie.
Outro detalhe importante é o excesso de luz artificial que também afeta o comportamento dos grilos, desorientando-os e dificultando seu deslocamento.
Para combater esses desafios, iniciativas como o Projeto Providence vêm sendo implementadas. Essa parceria entre Brasil e Espanha, conduzida pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e pela Universidade Politecnica da Catalunha, busca monitorar as espécies amazônicas e compreender como elas estão sendo afetadas pelas mudanças ambientais.