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Pergaminhos do Mar Morto foram feitos há mais tempo do que se imaginava

Por Leticia Florenço
09/06/2025
Em Colunas, Mais Tendências
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Reprodução

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Desde a sua descoberta em 1947, em cavernas próximas a Qumran, nas margens do Mar Morto, os manuscritos ali encontrados vêm sendo considerados uma das maiores conquistas arqueológicas do século XX.

Com mais de 900 textos fragmentados, entre eles, cópias de livros bíblicos, documentos comunitários, hinos e comentários religiosos, os chamados Pergaminhos do Mar Morto oferecem uma visão sem precedentes sobre o judaísmo do Segundo Templo e sobre as raízes históricas do cristianismo primitivo.

No entanto, apesar de seu valor, uma questão permaneceu como um desafio persistente por décadas: quando exatamente esses textos foram escritos?

A ausência de datas explícitas nos documentos tornou difícil situá-los com precisão no tempo, e as análises se baseavam principalmente na paleografia, estudo das características da escrita manuscrita. Embora útil, essa técnica depende da interpretação subjetiva dos especialistas, tornando-se uma ferramenta imprecisa para uma cronologia rigorosa.

A virada tecnológica

Diante dessas limitações, pesquisadores da Universidade de Groningen, na Holanda, propuseram uma abordagem inovadora: unir o poder da tecnologia moderna à ciência tradicional. A equipe criou um modelo de inteligência artificial chamado Enoch, que foi treinado para reconhecer padrões estilísticos na caligrafia hebraica antiga.

A inovação não parou por aí. Os cientistas cruzaram as análises da IA com a datação por radiocarbono (Carbono-14), aplicada a fragmentos de pergaminho que já tinham uma idade conhecida.

A partir dessa base, o modelo pôde ser calibrado com grande precisão, permitindo que ele estimasse a data de outros manuscritos ainda não datados com uma margem de erro média de apenas 30 anos, um avanço notável, considerando a antiguidade dos documentos.

Revelações surpreendentes sobre a escrita e a cultura Judaica

Entre as revelações mais impactantes está a constatação de que os estilos de caligrafia conhecidos como hasmoneano e herodiano, antes considerados consecutivos, na verdade coexistiram no tempo.

Essa descoberta derruba suposições anteriores sobre uma evolução linear da escrita hebraica e sugere que diferentes comunidades podiam usar estilos distintos simultaneamente, talvez com propósitos diversos, religiosos, administrativos ou culturais.

Esse detalhe aparentemente técnico tem implicações sociais e políticas importantes. Ele sugere a existência de múltiplas escolas de escribas, refletindo uma sociedade mais complexa do que se imaginava, com níveis variados de alfabetização e produção textual antes mesmo das grandes mudanças políticas do século II a.C.

Textos bíblicos mais próximos de seus autores originais

O uso combinado da IA e do carbono-14 também permitiu identificar manuscritos que foram produzidos quase simultaneamente à composição dos textos bíblicos que contêm.

Um exemplo é o 4Q114, que traz partes do livro de Daniel, datado entre 230 e 160 a.C, coincidindo exatamente com o período em que o texto teria sido escrito. Outro caso notável é o 4Q109, contendo trechos do livro de Eclesiastes (Qohelet), que remonta ao século III a.C.

Essas constatações reforçam a hipótese de que alguns pergaminhos não são cópias tardias, mas sim transcrições feitas ainda durante a circulação original dos textos. Isso dá aos estudiosos acesso quase direto à mentalidade e ao contexto histórico dos autores anônimos dessas obras sagradas, oferecendo uma janela inédita para o mundo espiritual e intelectual da Judeia antiga.

Implicações para o estudo das religiões

O estudo reforça a ideia de que as grandes tradições religiosas, como o judaísmo rabínico e, posteriormente, o cristianismo, emergiram de um ambiente cultural diverso, plural e altamente alfabetizado.

A presença de textos complexos, reflexivos e variados revela uma sociedade engajada com questões éticas, escatológicas e filosóficas muito antes da canonização formal das escrituras.

Esse panorama modifica a narrativa de que os textos religiosos teriam sido fruto exclusivo de elites clericais ou políticas. Ao contrário, a descoberta aponta para uma produção intelectual descentralizada, feita por escribas, sábios e religiosos cujas identidades permanecem em grande parte desconhecidas, mas cuja influência perdura até hoje.

Os pergaminhos, antes envoltos em mistério, começam a falar com mais clareza, não só sobre o passado remoto, mas também sobre as origens de ideias que ainda moldam o mundo atual.

Leticia Florenço

Leticia Florenço

Filha da Terra da Luz, jornalista pela Universidade de Fortaleza (Unifor).

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