O cenário do emprego formal no Brasil está passando por uma mudança significativa. Pela primeira vez, os pedidos voluntários de demissão se tornaram o principal motor do número total de desligamentos no país.
Esse movimento crescente, que já representa quase 38% das saídas do mercado formal, aponta para uma nova dinâmica entre trabalhadores e empregadores, em que os profissionais estão cada vez mais decidindo deixar seus postos por vontade própria, muitas vezes sem outro emprego garantido.
Pedidos de demissão são líderes no total de dispensas
A tendência de pedir demissão, que se intensificou nos últimos anos, especialmente após 2020, está sendo puxada principalmente por jovens, mulheres e profissionais com maior nível de escolaridade.
A decisão de sair de um emprego fixo tem deixado de ser um risco e se tornado uma escolha calculada, refletindo uma busca por melhores condições de vida, saúde mental, autonomia sobre a rotina e, em muitos casos, oportunidades mais lucrativas fora do modelo tradicional de trabalho.
O ambiente digital e o crescimento de atividades autônomas, como o empreendedorismo individual e as plataformas de trabalho sob demanda, têm oferecido alternativas cada vez mais acessíveis.
Com o avanço da tecnologia e o fortalecimento do e-commerce, muitos profissionais enxergam possibilidade de obter renda maior — e com mais flexibilidade — ao pedir demissão e atuar por conta própria.
Abrir um negócio, prestar serviços online ou criar produtos digitais se tornou viável com baixo investimento inicial, o que tem impulsionado a formalização de microempreendedores individuais.
Modelo tradicional de trabalho tem favorecido pedidos de demissão
Além disso, o modelo tradicional de trabalho, com jornadas longas, presença obrigatória e pouca margem para equilibrar a vida pessoal e profissional, tem sido alvo de críticas, impulsionando os pedidos de demissão.
Muitos relatam frustração com chefias autoritárias, rotinas exaustivas e a falta de reconhecimento, o que contribui para a decisão de sair.
O vínculo formal, que antes era sinônimo de estabilidade, perdeu seu apelo diante da percepção de que a segurança prometida nem sempre se confirma na prática.
Especialistas afirmam que, com o desemprego em baixa e maior mobilidade entre vagas, os trabalhadores sentem-se mais confiantes para buscar alternativas.
O desafio, agora, recai sobre as empresas, que precisam repensar seus modelos de gestão, oferecer mais flexibilidade e criar ambientes de trabalho mais atrativos para evitar a perda de talentos num mercado que, cada vez mais, valoriza liberdade e propósito.