O Papa Francisco, que faleceu na manhã da última segunda-feira, 21 de abril — um dia após o Domingo de Páscoa — nunca realizou um exorcismo ao longo de seu pontificado.
A decisão pode parecer surpreendente, considerando que a Igreja Católica reconhece oficialmente o exorcismo como uma prática válida e necessária em casos específicos.
Contudo, em uma conversa publicada em 2023 com o jornalista italiano Fabio Marchese Ragona, o pontífice revelou o motivo dessa escolha pessoal, reiterando, ao mesmo tempo, sua firme convicção na existência do mal e na necessidade constante de enfrentá-lo, inclusive por parte do Papa.
Papa Francisco explicou por que nunca fez exorcismos
Durante a entrevista, o Papa Francisco foi claro ao afirmar que acredita na atuação do diabo e nos efeitos concretos de sua presença no mundo. Contudo, explicou que optou por não assumir pessoalmente a prática dos exorcismos.
Em vez disso, o pontífice sempre preferiu delegar essa função a sacerdotes treinados especificamente para lidar com possessões demoníacas — padres que, segundo ele, possuem formação adequada e lidam com esses casos com profundidade e responsabilidade.
Para Francisco, a preparação espiritual e psicológica desses especialistas é essencial diante da gravidade dos episódios em que se suspeita de influência demoníaca.
Vale lembrar que a Igreja Católica, com mais de um bilhão de fiéis espalhados pelos continentes, conta com uma estrutura que inclui padres exorcistas em diversas dioceses ao redor do mundo. Esses religiosos são dedicados exclusivamente a este ministério e passam por anos de estudo e prática.
Ainda assim, o próprio Papa lamentava que nem todos os países estivessem preparados para enfrentar essas situações.
Ele citava como exemplo regiões do norte da Europa, onde não há sacerdotes disponíveis para essa função, o que, segundo ele, representa um risco diante do avanço de práticas espirituais paralelas ou mal compreendidas.
Papa Francisco defendia o combate ao mal através de oração constante e fidelidade ao Evangelho
O Papa Francisco sempre ressaltou que o combate ao mal não depende apenas de rituais formais.
Ele acreditava que a oração constante, a fidelidade ao Evangelho e o afastamento da corrupção — especialmente aquela ligada à ganância e ao poder — são formas cotidianas de enfrentar o diabo.
Em suas homilias, o papa costumava dizer que “o diabo entra pelos bolsos”, destacando como a busca desmedida por dinheiro pode abrir caminho para influências malignas.
Ele próprio se reconhecia como alvo frequente de tentações e afirmava que o mal busca especialmente atingir líderes religiosos.
Livro relata tentativas contra o Papa Francisco
O livro de Marchese Ragona, Exorcistas contra Satanás, começa com um episódio revelador: o caso de uma freira que, em meio a um ritual de exorcismo, teria mencionado Francisco com voz demoníaca, afirmando que o odiava e tentava destruí-lo — mas sem sucesso, por ser “forte demais”.
Esse relato, apresentado logo no início da obra, ilustra a dimensão espiritual que cercava o pontífice, mesmo sem a prática direta do exorcismo.
Embora não tenha realizado o rito em si, o Papa Francisco seguiu a tradição de outros papas contemporâneos, como João Paulo II e Bento XVI, que, em ocasiões específicas, chegaram a orar por pessoas supostamente possuídas, mesmo à distância.
A postura do papa argentino foi sempre a de apoiar o ministério do exorcismo e fortalecer espiritualmente a Igreja contra aquilo que considerava um inimigo real: a ação contínua e dissimulada do mal, principalmente através da ganância desenfreada.