Nos últimos anos, a sensação de segurança nas sociedades europeias, especialmente após o colapso do regime soviético, tem sido desafiada por uma crescente instabilidade geopolítica e eventos imprevisíveis.
O aumento das tensões internacionais, em especial com a Rússia e suas ações agressivas, faz com que o tema de como se preparar para emergências catastróficas se torne cada vez mais relevante. Países europeus, conscientes da ameaça potencial de eventos catastróficos, estão adotando medidas preventivas para garantir a segurança de seus cidadãos.
Um exemplo disso é o manual de sobrevivência que o governo francês enviará a todos os lares do país e as novas diretrizes da Comissão Europeia para a criação de kits de sobrevivência, fundamentais em situações extremas.
Nova realidade
O governo francês, ao lançar seu manual de sobrevivência, oferece orientações claras sobre como as famílias devem se preparar para emergências que poderiam durar até 72 horas, um período crítico em que as infraestruturas podem estar comprometidas.
Embora a palavra “guerra nuclear” nunca seja mencionada diretamente, a natureza das instruções parece sugerir que esse é o cenário mais temido: o uso de armas de destruição em massa. Esses kits incluem itens essenciais como água, alimentos enlatados, rádio de pilha e medicamentos, além de acessórios de higiene e primeiros socorros.
Para muitos, a inclusão de fitas adesivas para isolar radiação parece uma medida simbólica diante da magnitude do que seria um ataque nuclear, mas é a única preparação possível diante da dimensão catastrófica do cenário.
O apelo à sobrevivência básica, como a preservação de água e alimentos não perecíveis, tem sido amplamente discutido na Europa, especialmente no contexto de ataques cibernéticos ou desastres naturais que podem desestabilizar a sociedade por semanas ou até meses.
O ponto central dessas iniciativas é criar resiliência, permitindo que a população sobreviva aos primeiros dias de caos.
Preocupações com o ataque nuclear
A ideia de um ataque nuclear, especialmente após a ascensão do governo de Donald Trump, que sugeriu que a Europa deveria assumir mais responsabilidade por sua própria segurança, gerou uma onda de preocupação entre os países da União Europeia.
A Rússia, sob a liderança de Vladimir Putin, tem adotado uma retórica ameaçadora, discutindo abertamente a possibilidade de um ataque nuclear como um meio de intimidação. O uso de propaganda russa, que inclui vídeos simulando um ataque devastador a Londres com uma bomba de 750 quilotons, serve para colocar em perspectiva o que significaria uma escalada de violência nuclear: mortes imediatas, radiação massiva e efeitos devastadores a longo prazo.
Enquanto a Doutrina da Destruição Mutuamente Garantida (DMG) durante a Guerra Fria tinha como objetivo evitar o uso de armas nucleares, o cenário atual é mais incerto.
Embora os líderes mundiais ainda compreendam que o uso de armas nucleares teria consequências catastróficas para todos os envolvidos, a insegurança gerada pelas ameaças constantes de uso dessa força tem levado os governos a repensar suas estratégias de segurança.
Preparação e prevenções
Em resposta a essas ameaças, países como Noruega, Suécia e Finlândia, que compartilham fronteiras com a Rússia, mantêm planos robustos de defesa civil e infraestrutura de segurança. A Finlândia, em particular, é um exemplo notável de preparação, com vastos abrigos subterrâneos e sistemas de proteção que foram criados durante a Guerra Fria e estão prontos para abrigar a população em caso de uma invasão ou ataque nuclear.
O treinamento de civis para lidar com emergências é uma prática comum nesses países, que sabem da necessidade de estar preparado para cenários extremos, como um ataque iminente.
Além disso, é importante considerar a realidade do tempo de resposta em situações de catástrofes nucleares. Um ataque com foguetes, que pode acontecer em questão de minutos, exige uma ação rápida, com as autoridades civis e militares trabalhando em conjunto para garantir que a população saiba o que fazer.
Infelizmente, na maioria das situações, a população não teria tempo suficiente para se proteger adequadamente, o que torna os kits de sobrevivência e a preparação para um período de 72 horas tão vitais.
Fragilidade da civilização
O fato de que as preparações para emergências estão sendo mais discutidas e adotadas por governos de países desenvolvidos não deve ser visto como uma solução definitiva para os desafios que a humanidade enfrenta em caso de catástrofes globais.
A fragilidade da civilização é uma realidade inegável, e o que separa a ordem do caos pode ser muito mais tênue do que gostaríamos de acreditar. Durante anos, as “preparações” eram vistas como um comportamento paranoico e exagerado, algo reservado para os chamados “preppies”, indivíduos obcecados por sobreviver a eventos catastróficos.
No entanto, com a crescente incerteza mundial, até mesmo cidadãos comuns começaram a reconhecer a importância de estar preparado para imprevistos.
O simples ato de armazenar alimentos não perecíveis, manter um rádio de pilha ou aprender técnicas de primeiros socorros se tornou mais relevante. Estes preparativos podem não garantir a sobrevivência em caso de um ataque nuclear, mas certamente ajudarão em outras situações de emergência, como desastres naturais, quedas de energia prolongadas que possam paralisar a infraestrutura de um país.
Preparar-se não é mais uma questão de escolha, mas uma necessidade imposta pelas novas realidades do mundo globalizado e interconectado.