O impacto das redes sociais na saúde mental e no desenvolvimento dos filhos tornou-se uma das maiores preocupações para os pais, psicólogos, psiquiatras e cientistas sociais ao redor do mundo.
Se, no início, eram os especialistas que alertavam sobre os riscos das plataformas digitais, hoje são os próprios jovens que começam a perceber e reconhecer os efeitos negativos que o uso excessivo dessas redes pode causar.
Nos últimos anos, o cenário mudou drasticamente, com um número crescente de pesquisas e estudos revelando como o ambiente virtual impacta a infância e a adolescência.
No Brasil, por exemplo, escolas públicas começaram a adotar medidas como a proibição do uso de celulares durante o período escolar, tentando reduzir os impactos negativos das redes sociais.
Alerta inicial dos especialistas
Psicólogos, psiquiatras e cientistas sociais foram os primeiros a apontar as consequências do uso excessivo das redes sociais. A preocupação começou com os dados sobre o aumento da ansiedade, depressão e outros transtornos mentais entre crianças e adolescentes, agravados pela interação constante com plataformas digitais.
O livro A Geração Ansiosa: Como a Reprogramação da Infância Está Causando uma Epidemia de Doenças Mentais trouxe à tona um debate urgente, destacando como a infância está sendo moldada de forma prejudicial pela digitalização precoce.
Mudanças nos comportamentos dos jovens
Estudos mais recentes, como os realizados pelo Pew Research, evidenciam uma mudança drástica no comportamento dos jovens em relação às redes sociais. Entre 2022 e 2024, a porcentagem de adolescentes que relataram efeitos negativos significativos das redes sociais aumentou de 32% para 48%, enquanto apenas 11% disseram que as redes tiveram uma influência predominantemente positiva.
Isso mostra como o cenário digital, antes visto como um espaço de diversão e interação social, está sendo cada vez mais associado a sentimentos de ansiedade, depressão e inadequação.
Pressão das imagens e da busca pela perfeição
Estudos apontam que, ao estarem expostas constantemente a imagens idealizadas, principalmente em plataformas baseadas em imagens como Instagram e TikTok, as adolescentes desenvolvem uma imagem corporal negativa, o que aumenta o risco de transtornos alimentares e comportamentos autodestrutivos. A pressão para atender aos padrões estéticos impostos pelas redes sociais é uma das principais causas desse quadro.
Amanda Raffoul, especialista da Escola de Saúde Pública de Harvard, afirma que o tempo excessivo nas redes sociais está diretamente relacionado à piora da saúde mental, especialmente entre as adolescentes. O tempo de permanência nas plataformas não só interfere no sono, mas também reduz o tempo para socialização real, o que aumenta a sensação de solidão e alienação.
Impacto das BigTechs e o modelo de negócios
As grandes empresas de tecnologia, como Meta (Facebook, Instagram), Google (YouTube) e ByteDance (TikTok), têm seus lucros diretamente ligados ao tempo de permanência dos usuários nas plataformas.
Quanto mais tempo os jovens passam online, mais expostos são a anúncios e conteúdos de marketing, muitas vezes disfarçados de recomendações pessoais feitas por influenciadores. Esse modelo de negócios não apenas prejudica a saúde mental, mas também alimenta a cultura do consumismo e a obsessão por padrões estéticos.
As BigTechs têm investido fortemente na criação de algoritmos que maximizam o tempo de uso, priorizando conteúdos que capturam a atenção e geram interações rápidas e contínuas.
Essas plataformas, além de não regulamentarem adequadamente o conteúdo prejudicial, atuam contra tentativas de restrição ou regulamentação, como visto em algumas iniciativas governamentais no Brasil.
Pais e filhos
O aumento da conscientização sobre os danos das redes sociais levou a um novo tipo de diálogo entre pais e filhos. A pesquisa revelou que, enquanto 44% dos pais nos Estados Unidos estão muito preocupados com os impactos das redes sociais na saúde mental de seus filhos, apenas 22% dos adolescentes compartilham a mesma preocupação.
Isso cria um abismo entre as gerações, onde as crianças e adolescentes, muitas vezes, subestimam os riscos, enquanto os pais temem os efeitos invisíveis e profundos do uso excessivo das redes.
A solução para esse problema não é simples e exige um esforço coletivo de famílias, escolas e governos. Além da regulação das plataformas, é necessário educar os jovens sobre o uso responsável das redes sociais, criar alternativas saudáveis para o consumo digital e promover um ambiente que favoreça o desenvolvimento emocional e psicológico das novas gerações.