Um adolescente de 17 anos, na Holanda, surpreendeu médicos ao acordar de uma cirurgia no joelho falando inglês fluente com sotaque americano — idioma que antes usava apenas na escola. Ele perdeu temporariamente a capacidade de entender e falar holandês, sua língua nativa, e não reconhecia os próprios pais.
Sem histórico de doenças neurológicas ou mentais, foi submetido a avaliação psiquiátrica. Cerca de 18 horas depois, voltou a compreender o holandês e, no dia seguinte, retomou gradualmente a fala após uma visita de amigos. Três dias depois, teve alta.
Síndrome que provoca a fala de outro idioma
Após apuração do caso, os médicos identificaram que o adolescente apresentou um episódio passageiro da síndrome da língua estrangeira (SLE), uma condição neurológica raríssima que altera a fala, fazendo com que a pessoa adote um sotaque estrangeiro ou, em certos casos, se comunique em outro idioma. A síndrome afeta aspectos como ritmo, entonação e articulação, mas não implica necessariamente o domínio de uma nova língua.
A SLE costuma estar ligada a lesões na área de Broca — região cerebral que regula a fala — e é geralmente provocada por traumas, AVCs ou tumores. No entanto, nenhum desses fatores foi identificado no caso do jovem, que se recuperou completamente em poucas semanas e não apresentou alterações em exames neurológicos.
Relação cérebro e anestesia
O caso pode representar o primeiro registro da síndrome da língua estrangeira (SLE) em um adolescente, já que a condição é extremamente rara, mais frequente em adultos e soma apenas cerca de 100 casos confirmados no mundo desde que foi descrita pela primeira vez, em 1907, pelo neurologista francês Pierre Marie.
A possível ligação entre anestesia e episódios como esse ainda é objeto de investigação. Um estudo publicado em 2024 na Journal of Oral and Maxillofacial Surgery aponta que a anestesia pode afetar temporariamente a comunicação entre regiões do cérebro, interferindo na linguagem e gerando confusão mental após cirurgias. Mesmo assim, especialistas destacam que são necessárias mais pesquisas para compreender como um procedimento rotineiro pode desencadear uma resposta neurológica tão incomum.