A gigante do varejo, Americanas, enfrenta uma reestruturação após o escândalo financeiro de 2023, que revelou um rombo bilionário no balanço da empresa. A crise abalou a confiança dos investidores e forçou a empresa a adotar uma nova estratégia para se recuperar e adaptar-se aos tempos atuais.
Esta nova fase do varejo da Americanas implica uma reavaliação de sua operação física e digital, com a promessa de um futuro mais enxuto, rentável e focado em eficiência.
Transformação nas lojas físicas
A empresa abandonou os grandes espaços comerciais para adotar um modelo mais enxuto e eficiente. Lojas menores e mais focadas em produtos que podem ser carregados debaixo do braço estão sendo priorizadas.
Com isso, itens de grande porte como geladeiras, sofás e fogões não são mais vendidos nas lojas físicas, sendo oferecidos exclusivamente no e-commerce em parceria com fornecedores. A principal novidade é que as lojas se tornam mais especializadas em produtos de fácil transporte, como eletrônicos pequenos, roupas e itens de uso cotidiano.
Reestruturação digital
Com o objetivo de melhorar a experiência do cliente, a Americanas se propôs a oferecer uma integração entre os canais online e offline, conhecida como “omnicanalidade”.
A ideia é que o cliente tenha uma experiência contínua, podendo fazer compras tanto pelo site quanto pela loja física, com o mesmo nível de conveniência. O CEO, Leonardo Coelho, afirmou que a empresa está mais “leve, simples e rentável”, com o foco em reduzir custos com centros de distribuição e reforçar a presença no digital.
Fechamento de lojas
O número de lojas físicas diminuiu significativamente. A rede, que possuía 1.800 unidades em janeiro de 2023, agora tem 1.600, e o plano é fechar mais unidades. Segundo a CFO da empresa, Camille Faria, o fechamento de lojas faz parte de um processo natural de ajuste.
A empresa busca melhorar seus recursos e investir em lojas menores, que permitem uma experiência de compra mais ágil e com maior potencial de vendas por impulso, como o exemplo de itens adicionais adquiridos em uma loja compacta.
Mudança no portfólio de produtos
Com a redução de custos e a busca por maior rentabilidade, a empresa fez ajustes no seu portfólio de produtos. O número de SKUs (unidade de produtos) foi reduzido de 10 mil para 14 mil, com um foco em itens mais rentáveis e de maior demanda.
A estratégia é abandonar produtos considerados supérfluos, como capachos temáticos ou brinquedos de alto valor, para dar lugar a itens mais simples e acessíveis, como roupas básicas e brinquedos de baixo custo.
Descoberta da fraude e a reestruturação financeira
A grande crise financeira da Americanas começou a ser revelada em janeiro de 2023, quando uma fraude de mais de R$ 25 bilhões foi descoberta. Isso abalou toda a estrutura da empresa e gerou uma profunda revisão dos seus números financeiros.
A companhia precisou refazer seu balanço patrimonial e rever suas projeções, antes de conseguir negociar com credores e reiniciar seu processo de recuperação. A colaboração dos acionistas Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, que colocaram R$ 12 bilhões, foi essencial para a reestruturação.
Recuperação gradual
Após a implementação de uma série de medidas de austeridade, a Americanas começou a mostrar sinais de recuperação. No terceiro trimestre de 2024, o volume de mercadorias vendidas nas lojas físicas cresceu 14,4%, enquanto o e-commerce da empresa viu uma queda de 49,4%. A empresa agora foca em parcerias com terceiros para seus produtos digitais e busca uma operação mais eficiente, sem os custos elevados de logística e estoque.
O maior desafio da Americanas agora é recuperar a confiança do mercado e dos investidores. Para isso, a empresa deve apresentar pelo menos três balanços financeiros consecutivos com dados positivos para solidificar sua recuperação. A tentativa de atrair investidores institucionais, especialmente após a entrada dos grandes acionistas, é um movimento fundamental para garantir o futuro da companhia. No entanto, é uma jornada que exige paciência e consistência.