Em um mundo cada vez mais urbanizado, a busca por soluções eficientes para o transporte coletivo se tornou essencial. Com avenidas congestionadas e uma demanda crescente por mobilidade acessível, surgem projetos ousados que desafiam os limites da engenharia.
Um desses projetos foi o DAF Super CityTrain, o ônibus mais longo já fabricado, com capacidade para transportar até 350 passageiros em uma única viagem.
Um gigante sobre rodas
Fabricado na Holanda em 1989, o DAF Super CityTrain era um verdadeiro colosso do asfalto. Com 32,2 metros de comprimento, ele superava em muito o tamanho dos ônibus convencionais.
Seu projeto contava com uma unidade tratora DAF FT2600 na frente e dois módulos articulados na traseira, formando um veículo composto por três partes. A velocidade máxima era limitada a 41 km/h por questões de segurança, e o peso total ultrapassava 28 toneladas.
Internamente, o ônibus contava com bancos simples, ventilação natural e um layout espaçoso, privilegiando a circulação de passageiros em pé. O embarque era feito por múltiplas portas laterais, o que acelerava o fluxo nos horários de pico. A articulação entre os módulos permitia certo grau de flexibilidade, essencial para as curvas nas ruas da cidade.
Circulando em Kinshasa
O Super CityTrain foi concebido para operar em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, uma metrópole que sofria com o transporte coletivo precário. A proposta era ousada: atender a grandes volumes de passageiros com um único veículo, melhorando o sistema com menor número de viagens.
No entanto, a realidade urbana se impôs. As vias de Kinshasa não tinham a largura e o reforço estrutural necessários para comportar o peso e o comprimento do ônibus. O modelo, que exigia um nível de manutenção elevado, também enfrentava dificuldades na reposição de peças e exigia motoristas com treinamento muito específico.
Com isso, a operação foi limitada a alguns corredores mais largos e planos da cidade. Mesmo assim, o projeto não teve vida longa. A combinação entre infraestrutura inadequada, custos elevados e dificuldades logísticas levou o DAF Super CityTrain a ser retirado de circulação pouco tempo depois de sua estreia.
Uma inovação que virou legado
Apesar de sua curta trajetória operacional, o DAF Super CityTrain não passou despercebido. Seu feito entrou para o Guinness Book, consagrando-o como o ônibus mais longo já construído.
Mas mais do que isso, ele serviu de inspiração para novas abordagens no transporte urbano, influenciando projetos que vieram depois. A proposta de maximizar o transporte de passageiros com um menor número de veículos passou a ser considerada por empresas e governos ao redor do mundo.
Novos concorrentes no cenário global
Desde então, diversas nações passaram a explorar soluções semelhantes. Um exemplo notável é o AutoTram Extra Grand, um protótipo alemão desenvolvido pelo Instituto Fraunhofer IVI.
Com 30,7 metros de comprimento e capacidade para até 256 passageiros, o veículo possui três módulos articulados e direção eletrônica assistida, que permite manobras surpreendentemente ágeis para um veículo tão extenso. No entanto, assim como o CityTrain, o AutoTram nunca passou da fase experimental.
Outro destaque é o Volvo Gran Artic 300, orgulho brasileiro lançado em 2016. Com 30 metros de comprimento e capacidade para 300 passageiros, foi projetado para operar em sistemas BRT, como os existentes em Curitiba e Goiânia.
Seu desempenho é otimizado por operar em faixas exclusivas e estações pré-embarque, aproveitando a infraestrutura criada para ônibus de grande porte.
Na China, o modelo Youngman JNP6250G, com 25 metros, se destaca por sua presença nos corredores de cidades como Pequim. Com dezenas de unidades em circulação, a China mostra que, com planejamento urbano adequado, é possível integrar ônibus gigantes ao cotidiano metropolitano.
A tecnologia por trás das manobras
Conduzir um veículo de mais de 30 metros exige muito mais do que habilidade ao volante. A engenharia envolvida nesses projetos inclui sistemas de articulação que ajustam os ângulos entre os módulos automaticamente durante as curvas.
Alguns modelos contam com direção ativa nas rodas traseiras, sensores de estabilidade e freios adaptativos. Essas tecnologias permitem que o ônibus acompanhe a trajetória do eixo dianteiro de maneira precisa, mesmo em ruas complexas.
Além disso, limitadores eletrônicos de velocidade e sistemas de controle de tração garantem segurança em ambientes urbanos densos. Essa combinação de recursos faz com que esses veículos operem com eficiência mesmo em contextos desafiadores.
Vantagens e desafios dos ônibus extralongos
A principal vantagem desses gigantes é a capacidade de transportar um grande número de passageiros com um único veículo. Isso representa economia em termos de combustível, mão de obra e manutenção, além de reduzir as emissões por passageiro. Em sistemas BRT, onde a demanda é constante e o fluxo é elevado, eles se mostram extremamente eficientes.
Entretanto, há obstáculos a superar. As vias precisam ser mais largas, com pavimentação reforçada. Os pontos de embarque devem ser maiores, e a operação exige motoristas treinados e manutenção especializada. Sem esses requisitos básicos, o uso de veículos tão grandes se torna inviável.
O futuro sobre rodas
Com o avanço tecnológico e a crescente preocupação ambiental, o foco atual do setor está na sustentabilidade. Fabricantes como BYD, Mercedes-Benz e Volvo investem fortemente em ônibus extralongos movidos a eletricidade ou hidrogênio.
Alguns modelos elétricos com mais de 24 metros de comprimento já circulam experimentalmente em cidades da Europa e da Ásia.
O futuro não pertence apenas ao tamanho, mas à eficiência. Com energia limpa, inteligência embarcada e infraestrutura adaptada, os ônibus gigantes estão cada vez mais prontos para atender às exigências do transporte urbano moderno.