Uma ex-executiva da Meta, empresa que controla o Instagram, Facebook e WhatsApp, trouxe a público um livro que tem gerado enorme controvérsia nos Estados Unidos.
Sarah Wynn-Williams, que trabalhou na companhia entre 2011 e 2017, relata episódios internos que, segundo ela, expõem a cultura tóxica e a falta de ética dentro da gigante da tecnologia.
As acusações atingem diretamente altos executivos da Meta e até mesmo seu fundador e CEO, Mark Zuckerberg, que agora busca barrar a circulação da obra por meio da Justiça.
A tentativa de censura contrasta com o discurso do empresário, que se apresenta ao lado de Donald Trump e Elon Musk como um defensor irrestrito da liberdade de expressão.
O livro que o dono do Instagram não quer seus usuários lendo
O nome do livro é Careless People: A Cautionary Tale of Power, Greed and Lost Idealism (“Pessoas descuidadas: um conto preventivo sobre poder, ganância e idealismo perdido” em tradução livre), uma alusão a fala do personagem do livro O Grande Gatsby que diz que seus amigos ricos são apenas “pessoas descuidadas” que “destruíram coisas e criaturas e então recuaram para seu dinheiro”.
A ex-funcionária da Meta, Wynn-Williams descreve um ambiente corporativo permeado por assédio, abuso de poder e tentativas da empresa de se alinhar com regimes autoritários para expandir seus negócios.
Um dos episódios mais marcantes envolve Joel Kaplan, ex-vice-presidente de políticas públicas da Meta, que teria feito comentários inapropriados sobre a aparência da autora após sua gravidez e questionado detalhes sobre sua recuperação pós-parto.
A autora também menciona Sheryl Sandberg, ex-diretora de operações, que teria ordenado que sua assistente comprasse milhares de dólares em lingerie e, em uma viagem corporativa, a convidado para dividir a cama em um voo.
Além disso, o livro aponta que Zuckerberg estava disposto a atender às exigências do governo chinês para permitir a entrada do Facebook no país, incluindo a implementação de ferramentas de censura e vigilância para agradar autoridades locais.
Segundo a autora, a Meta considerou até mesmo compartilhar dados de usuários de Hong Kong com o governo chinês, em uma tentativa de provar sua disposição em colaborar com o regime.
Zuckerberg tenta impedir na justiça divulgação do livro, apesar de se dizer defensor da liberdade de expressão
O lançamento do livro ocorre em um momento curioso para Zuckerberg. No início do ano, o CEO da Meta se aproximou politicamente do recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do bilionário Elon Musk.
Ele também anunciou mudanças na moderação de conteúdo em suas plataformas, encerrando a checagem de informações para priorizar um modelo em que os próprios usuários se corrigem mutuamente por meio de “notas da comunidade”.
Ainda assim, apesar de sua postura pública pró-liberdade de expressão, Zuckerberg recorreu à Justiça para tentar bloquear a divulgação do livro.
Em vez de contestar as acusações feitas por Wynn-Williams – declaração que Zuckerberg nunca fez -, a Meta argumenta que a ex-funcionária violou um contrato ao revelar detalhes internos da empresa.
O caso levanta dúvidas sobre até que ponto o discurso de liberdade de expressão irrestrita do CEO se sustenta quando a transparência coloca sua própria reputação e fortuna em risco.