Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Ilha da Queimada Grande, situada a cerca de 30 km do litoral sul de São Paulo, é uma das áreas de proteção ambiental mais restritas do Brasil.
Conhecida popularmente como “Ilha das Cobras”, o local abriga uma população significativa da jararaca-ilhoa (Bothrops insularis), uma das serpentes mais venenosas do mundo, espécie considerada criticamente ameaçada de extinção.
Apesar de sua beleza atlântica exuberante, com vegetação densa e paisagens preservadas, esse pequeno território de 43 hectares representa um perigo real para qualquer pessoa que tente desembarcar sem a devida autorização e preparo.
O acesso à ilha é proibido ao público geral e limitado exclusivamente a pesquisadores com autorização específica do Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBio).
Um paraíso hostil com uma beleza letal
Com milhares de serpentes espalhadas pelo terreno, a Ilha da Queimada Grande é considerada um verdadeiro laboratório natural. A espécie dominante, a jararaca-ilhoa, evoluiu de forma única após o isolamento geográfico, desenvolvendo um veneno até cinco vezes mais potente do que o da jararaca comum.
Isso porque, sem acesso a mamíferos terrestres, a serpente passou a se alimentar de aves, exigindo uma ação mais letal e rápida.
A densidade populacional de serpentes na ilha é considerada alta: estima-se a presença de uma jararaca a cada 300 metros quadrados. A movimentação humana é extremamente restrita, e mesmo pesquisadores seguem protocolos rigorosos, com trajes específicos e equipamentos especializados.
Vale mencionar que o local já abrigou um faroleiro, mas com a automação da estrutura e os riscos envolvidos, a presença humana foi completamente eliminada, reforçando a função conservacionista da ilha.
Conservação, ciência e riscos invisíveis
A jararaca-ilhoa está listada como criticamente em perigo tanto pela IUCN quanto pelo ICMBio. O isolamento geográfico, a baixa diversidade genética e ameaças como incêndios e biopirataria tornam sua conservação um desafio contínuo.
Isso reforça o papel essencial da pesquisa científica desenvolvida por instituições como o Instituto Butantan e universidades públicas, focada no monitoramento populacional, na restauração da vegetação nativa e na proteção do ecossistema insular.
Outro detalhe importante é que, apesar de seu veneno ainda não ser utilizado na indústria farmacêutica, estudos sobre suas propriedades têm potencial biotecnológico. Dessa forma, preservar esse ambiente é mais do que uma questão ambiental: é também uma aposta no futuro da ciência brasileira.