Um estudo recente divulgado pelo Instituto Universitário das Nações Unidas para Água, Meio Ambiente e Saúde (UNU-INWEH), instituição acadêmica vinculada à ONU, aponta que os mercados de carbono, criados para financiar a conservação das florestas e o reflorestamento, podem, sem querer, intensificar as mudanças climáticas.
De acordo com o relatório, essa abordagem, que tem como objetivo reduzir as emissões de gases de efeito estufa, pode, na prática, elevar o risco de incêndios florestais, os quais liberam grandes volumes de carbono na atmosfera.
Árvores e mudanças climáticas
O documento ressalta que, em diversas partes do mundo, os incêndios florestais têm se tornado uma fonte cada vez mais significativa de emissões de carbono. O estudo também levanta dúvidas sobre a eficácia da principal estratégia mundial para mitigar as mudanças climáticas, que consiste no plantio e na proteção de árvores para capturar carbono.
Apesar de atrair bilhões em investimentos destinados a compensar emissões, o relatório aponta que o aumento da temperatura e dos níveis de dióxido de carbono acelera o crescimento das florestas, ao mesmo tempo em que diminui a umidade do solo, criando um ambiente favorável ao surgimento de incêndios. Dessa forma, o aumento do número de árvores nessas condições pode resultar no efeito contrário ao esperado, ampliando a liberação de carbono devido a futuros incêndios.
Reformulação de certificados
Kaveh Madani, diretor da UNU-INWEH, destaca que muitos programas e certificações florestais foram elaborados com base em dados científicos que já estão desatualizados, e que esses projetos podem, em certas situações, contribuir para o aumento das emissões de gases de efeito estufa. Contudo, ele ressalta que nem todas as iniciativas do mercado voluntário de carbono apresentam esse tipo de risco.
Por fim, o relatório recomenda uma reformulação abrangente dos sistemas de mercado voluntário de carbono e outras políticas semelhantes. Para garantir resultados eficazes e evitar consequências negativas, sugere que aspectos como a saúde do solo, os padrões de precipitação e as previsões de secas e ondas de calor sejam cuidadosamente avaliados antes da aprovação de projetos florestais como solução para a redução das emissões de carbono.