No Japão, pedir demissão pode ser um grande desafio. Em um ambiente corporativo altamente hierárquico e exigente, muitos trabalhadores enfrentam dificuldades para deixar seus empregos sem enfrentar represálias ou pressões psicológicas.
Para evitar esse cenário, uma solução tem se popularizado: as agências de demissão, que ajudam funcionários a sair de seus cargos sem confrontos diretos com seus superiores.
Agência de demissão cresce no Japão
O serviço de agência de demissão já existia antes da pandemia, mas ganhou mais força nos últimos anos. Isso porque o trabalho remoto durante a Covid-19 fez muitos profissionais refletirem sobre suas carreiras e buscarem melhores condições laborais.
Um exemplo é a Momuri, uma das empresas mais conhecidas do setor. Seu nome, que pode ser traduzido como “não aguento mais”, reflete a realidade de muitos trabalhadores japoneses. Segundo a agência, após o feriado nacional conhecido como Golden Week, foram registrados mais de 170 pedidos de demissão em um único dia.
O serviço oferecido é simples, mas eficaz: a agência comunica a decisão de desligamento ao empregador, negocia os termos da saída e, se necessário, oferece suporte jurídico. Para isso, cobra cerca de 22 mil ienes (aproximadamente R$ 840).
O impacto da cultura corporativa rígida
Vale mencionar que, no Japão, a cultura do trabalho é baseada em lealdade extrema ao empregador. Muitos profissionais passam décadas na mesma empresa, e pedir demissão pode ser visto como um desrespeito. Além disso, jornadas de trabalho exaustivas são comuns, com funcionários trabalhando 12 horas por dia ou mais.
Um caso emblemático é o de Yuki Watanabe, uma jovem de 24 anos que usou um pseudônimo para relatar sua experiência à CNN. Trabalhando em uma grande empresa de telecomunicações, ela enfrentava rotinas exaustivas, com jornadas que terminavam às 23h.
O estresse foi tão intenso que Yuki desenvolveu problemas de saúde, como tremores nas pernas e dores no estômago. Com medo da reação do empregador, ela optou por contratar uma agência de demissão para garantir uma saída segura.
Outro detalhe importante é que o excesso de trabalho no Japão pode ter consequências graves. O país até mesmo cunhou um termo para descrever a morte por excesso de trabalho: karoshi. Os sintomas mais comuns desse fenômeno incluem pressão alta, ansiedade, tremores, problemas cardíacos e digestivos.