Na última terça-feira, 8 de abril, a Câmara dos Deputados da Argentina aprovou, por 128 votos a favor, 93 contra e 7 abstenções, a criação de uma comissão parlamentar destinada a investigar o envolvimento do presidente Javier Milei no caso da criptomoeda Libra.
A investigação busca apurar a atuação do chefe do Executivo argentino, que foi diretamente responsável pela promoção do ativo, o que gerou uma onda de prejuízos para diversos investidores.
Contexto da criptomoeda Libra e o papel de Javier Milei
A criptomoeda Libra foi promovida por Javier Milei em um movimento que inicialmente parecia ser uma boa oportunidade para investidores e pequenas empresas. Em um anúncio feito pelo presidente, ele afirmou que a Libra seria uma moeda voltada para o financiamento de pequenos negócios. No entanto, o que parecia ser uma iniciativa inovadora e promissora logo se transformou em um escândalo.
O valor da moeda disparou rapidamente após o tweet de Milei, chegando a quase 5 dólares. No entanto, em poucas horas, a moeda desabou para menos de 50 centavos de dólar, resultando em pesados prejuízos financeiros para aqueles que haviam investido no ativo.
Reação de Milei e o desdobramento do caso
Diante do colapso da moeda, Milei apagou rapidamente a publicação que havia feito sobre a Libra e se desvinculou do projeto. O presidente argumentou que não estava totalmente ciente dos detalhes da moeda e afirmou que não tinha conhecimento dos “pormenores” da operação. No entanto, uma série de elementos em torno do caso geraram desconfiança em relação à sua real participação.
Um dos pontos mais controversos é o fato de que, em outubro do ano anterior, Milei recebeu em sua residência oficial, a Casa Rosada, Julian Kip, CEO da empresa responsável pela criação da Libra. Esse encontro levanta questionamentos sobre o grau de envolvimento de Milei com a criptomoeda, colocando em xeque sua alegação de desconhecimento do projeto.
Comissão parlamentar
A aprovação da comissão na Câmara dos Deputados é um marco importante para a investigação, que agora contará com a participação de várias figuras chave do governo.
Entre os convocados, estão Guillermo Francos, chefe de Gabinete de Milei; Luis Caputo, ministro da Economia; Mariano Cúneo Libarona, ministro da Justiça; e Roberto Silva, presidente da Comissão Nacional de Valores Mobiliários (CNV), entidade que regula o mercado financeiro argentino, equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no Brasil.
Esses funcionários serão ouvidos no intuito de esclarecer qual foi o envolvimento de cada um deles na promoção da Libra e como o projeto foi conduzido dentro do governo. A comissão deve se reunir pela primeira vez no próximo dia 23 de abril, quando as investigações começarão a ganhar mais forma.
Consequências para o governo de Milei
Este episódio representa mais uma derrota política para o governo de Javier Milei. Na semana passada, o presidente também sofreu um revés no Congresso, quando o Senado rejeitou suas indicações para a Suprema Corte da Argentina, outra derrota para o presidente, que já enfrenta dificuldades em sua relação com o parlamento.
Além disso, a investigação sobre a Libra pode afetar a imagem de Milei, especialmente em um momento em que ele tenta consolidar seu poder no país. A pressão sobre o governo aumentará à medida que os detalhes sobre o caso se tornarem mais claros, e as investigações podem gerar novas controvérsias.
Futuro da investigação
O andamento da comissão parlamentar será crucial para definir os próximos passos e os possíveis desdobramentos legais do caso. Caso a investigação prove envolvimento impróprio por parte de Milei ou de outros membros do governo, poderão ser abertas novas frentes de ação, incluindo processos judiciais e possíveis sanções políticas.
Ainda é cedo para prever quais serão os resultados dessa investigação, mas o fato é que o caso da Libra é apenas mais um dos desafios enfrentados por Javier Milei em um cenário político tenso e conturbado na Argentina.
O impacto no mercado financeiro e na política do país será acompanhado de perto nas próximas semanas, especialmente quando a comissão se reunir para as primeiras declarações e audiências.
O desfecho dessa investigação poderá determinar não apenas o futuro do presidente, mas também a confiança da população e do mercado no governo argentino.