Enquanto a maioria das pessoas comemora os 70 anos em terra firme, Don Pettit teve uma celebração única: retornou à Terra após sete meses na Estação Espacial Internacional (ISS), exatamente no dia em que completou sete décadas de vida.
A cápsula Soyuz MS-26 aterrissou nas planícies desertas do Cazaquistão depois de 220 dias em órbita. Ao lado dos cosmonautas Aleksey Ovchinin e Ivan Vagner, Pettit retornou com segurança, mas não sem preocupações.
Imediatamente após o pouso, ele precisou de atendimento médico, levantando discussões sobre os protocolos de recuperação dos astronautas russos, que expõem os tripulantes ao público no momento mais delicado, diferentemente das abordagens adotadas por NASA e China.
Reflexões do espaço
No espaço, a 400 km acima da Terra, Don Pettit refletiu sobre o significado de “lar”. Em sua mensagem, ele escreveu que, mesmo estando do outro lado do planeta, longe de sua casa física, sentia-se em casa naquele momento. Essa percepção ressignifica a ideia de pertencimento e identidade depois de meses observando nosso planeta em sua totalidade.
Com quatro missões e um total de 590 dias no espaço, Pettit é o astronauta ativo mais velho da NASA e o décimo quarto com mais tempo acumulado fora da Terra. Dado seu tempo na agência e sua idade, esta pode ter sido sua última jornada orbital, um fechamento digno para uma carreira marcada por contribuições científicas e culturais.
O mestre das imagens espaciais
Don Pettit é reconhecido mundialmente como um dos melhores fotógrafos da história da ISS. Durante sua última missão, suas fotos capturaram a Via Láctea, fenômenos atmosféricos raros, a luz zodiacal, rastros de satélites Starlink e incríveis paisagens terrestres vistas de uma perspectiva única.
Pettit utilizou filtros infravermelhos e técnicas criativas para destacar correntes oceânicas, formações geológicas e reflexos solares que transformam imagens comuns em verdadeiras pinturas visuais. Essa habilidade artística permitiu um novo olhar sobre a Terra, que ultrapassa o registro documental.

Ele também capturou a aurora boreal durante períodos de intensa atividade solar e ajudou no estudo dos eventos luminosos transitórios (ELTs), fenômenos elétricos acima das tempestades que ainda intrigam a ciência. Suas fotografias de longa exposição registraram o movimento das estrelas e as luzes urbanas transformadas em rios brilhantes na noite orbital.
Ciência, criatividade e inovação além da fotografia
Engenheiro químico e cientista, Pettit é conhecido por sua criatividade aplicada à vida no espaço. Inventou uma xícara especial para beber líquidos em microgravidade, um dispositivo para compensar movimentos da ISS e fez vários experimentos científicos em seu tempo livre, como manipulação de gotas de água carregadas eletricamente e estudo da formação de cristais de gelo.
Com a partida de Pettit, a Expedição 73 da ISS passou para o comando do japonês Takuya Onishi, que lidera uma equipe internacional incluindo astronautas da NASA e cosmonautas russos. O retorno do “fotógrafo do espaço” encerra um ciclo importante, mas a missão e o espírito de exploração continuam vivos com as próximas gerações.