O universo da moda, em especial o setor de acessórios como as meia-calças, foi historicamente um campo dominado por produtos frágeis e descartáveis. Fios puxados ou rasgos em meia-calças parecem ser um problema pequeno, mas, com bilhões de pares sendo descartados anualmente, a indústria da moda contribui significativamente para o desperdício ambiental.
Em 2017, uma ideia inovadora surgiu para mudar essa realidade, quando Katherine Homuth, uma jovem empreendedora canadense, criou uma meia-calça capaz de resistir até aos mais intensos desgastes, revolucionando o mercado. Sua criação se tornou um símbolo de inovação, sustentabilidade e empreendedorismo de sucesso.
Jornada de inovação de Katherine Homuth
Katherine Homuth, com um background na área de tecnologia, estava em busca de uma solução para o problema dos fios puxados e rasgos comuns em meia-calças. Em uma pesquisa, ela constatou que havia uma grande lacuna no mercado: apesar da popularidade dessas peças, não havia inovações desde a invenção do nylon nos anos 1930 e do elastano nas décadas seguintes. Determinada a mudar isso, ela iniciou um longo processo de testes de materiais.
A jornada de Katherine não foi fácil. Após testar dezenas de fibras diferentes que falharam em atender aos seus requisitos de durabilidade, ela encontrou a solução em um material quase indestrutível: o polietileno de ultra alto peso molecular (UHMWPE), usado em coletes à prova de balas. No entanto, a primeira tentativa de produzir o material não foi bem-sucedida.
A fibra foi tão resistente que quebrou a máquina de uma fábrica na China. Esse revés poderia ter sido o fim do projeto, mas Katherine não desistiu e, com perseverança, montou seu próprio laboratório no Canadá para ajustar as máquinas e adaptar a produção.
Com o tempo e uma série de ajustes técnicos, Katherine e sua equipe conseguiram produzir as primeiras meia-calças feitas de polietileno de alta resistência. A durabilidade dessas peças foi impressionante: elas poderiam durar até dez vezes mais que as meia-calças tradicionais, tornando-se muito mais sustentáveis, já que exigiriam menos reposições e, portanto, menos desperdício.
Sustentabilidade
A sustentabilidade foi o alicerce da criação da Sheertex. Em vez de criar um produto que fosse biodegradável, Katherine focou em criar um item que fosse durável o suficiente para reduzir os impactos ambientais a longo prazo. Embora as meia-calças não sejam biodegradáveis, elas representam um avanço em relação às versões feitas de nylon e elastano, materiais derivados de petróleo e com uma vida útil mais curta.
Além disso, a empresa tem se empenhado em reduzir os custos de produção, que caíram consideravelmente ao longo dos anos. O custo de produção de um par de meia-calças Sheertex, que em 2018 era de US$ 50 (R$ 300), caiu para US$ 12 (R$ 71) em 2023, e a expectativa é que chegue a US$ 2,50 (cerca de R$ 15) nos próximos dois anos. Isso possibilitou a democratização do produto, tornando-o acessível a uma gama maior de consumidores.
Expansão e crescimento no Mercado Global
O sucesso das meia-calças Sheertex foi notável, mas a transição de um modelo de negócios direto ao consumidor para grandes varejistas como H&M, Costco e QVC trouxe desafios. O preço atacado é muito inferior ao preço de varejo, o que reduziu as receitas da empresa.
No entanto, Katherine reconhece que essa mudança era necessária para escalar a produção e alcançar um público ainda maior. Ela projetou uma receita de US$ 30 milhões (R$ 178 milhões) para 2024, e está confiante de que a marca atingirá US$ 70 milhões (R$ 415 milhões) em 2025.
Para garantir o crescimento da Sheertex, a empresa conseguiu levantar US$ 143 milhões (R$ 849 milhões) em investimentos, com o apoio de nomes como H&M e Chip Wilson, fundador da Lululemon. Além disso, a construção de uma nova fábrica de 28 mil metros quadrados em Montreal permite à empresa escalar sua produção de maneira significativa, com a meta de produzir 30 milhões de pares de meia-calças até 2027.
Inovação além das meias
O foco da Sheertex, porém, não é mais apenas nas meia-calças. Katherine Homuth e sua equipe estão investindo em novas tecnologias para criar materiais que possam ser aplicados em outros tipos de roupas e acessórios.
Recentemente, a empresa começou a produzir trajes de banho, que se destacam por secar duas vezes mais rápido que os concorrentes, e uma membrana repelente à água, livre de substâncias tóxicas, destinada a substituir os revestimentos tradicionais à base de PFAS, substâncias químicas prejudiciais ao meio ambiente.
Além disso, a Sheertex está pesquisando um substituto reciclável para o elastano, um material amplamente utilizado na indústria têxtil, mas cujos impactos ambientais são cada vez mais questionados.
Recentemente, a Sheertex também lançou uma nova linha de produtos com a marca Sheertex Studio, focada em modelos mais sofisticados, como as meia arrastão. Além disso, a marca estabeleceu uma colaboração com a Steve Madden para criar uma linha exclusiva de meias. A vantagem desses produtos é clara: durabilidade, resistência e economia a longo prazo, pois as meias podem ser usadas por toda uma temporada sem precisar de reposição.
Futuro da Sheertex e o impacto da inovação no mercado
A visão de Katherine é clara: transformar a Sheertex em uma gigante dos materiais sustentáveis, comparável à DuPont. Com investimentos em pesquisa e desenvolvimento e o foco em tecnologia de ponta, ela está pronta para transformar não apenas o mercado de meia-calças, mas todo o setor têxtil. A empresa não só desenvolve materiais mais duráveis e ecológicos, mas também trabalha para que seus produtos sejam acessíveis e estejam ao alcance de um público global.
Se o mundo seguir o exemplo de Katherine, podemos estar diante de um futuro mais sustentável e consciente no setor da moda.