Mais de metade dos médicos participantes de um estudo internacional afirmaram que optariam por eutanásia ou morte assistida em casos avançados de câncer ou Alzheimer, caso se encontrassem nessa condição. A pesquisa, publicada na Journal of Medical Ethics, envolveu 1.456 profissionais da saúde, entre médicos de família, paliativistas e especialistas que lidam frequentemente com doenças terminais.
O levantamento abrangeu oito regiões com legislações distintas sobre o tema — incluindo países como Bélgica, Canadá e Itália, além de estados dos Estados Unidos e da Austrália. Os dados indicam que a opinião dos médicos é fortemente influenciada pelo contexto legal de onde atuam, sendo mais favoráveis à prática onde ela já é permitida por lei.
Eutanásia em doenças graves
- Aceitação conforme legislação: Em países onde a eutanásia é legal, como Bélgica e Canadá, cerca de 80% dos médicos aceitam a prática. Em regiões onde a eutanásia é proibida, como Itália e estados conservadores dos EUA, a aceitação cai para aproximadamente 40%. A familiaridade com a legislação e a experiência clínica aumentam a predisposição dos médicos a considerar a eutanásia uma opção válida.
- Preferências em tratamentos: Menos de 1% dos médicos entrevistados escolheria reanimação cardiopulmonar ou ventilação mecânica. Apenas 4% optariam por alimentação por sonda. Mais de 90% consideram o alívio intensificado dos sintomas uma “opção muito boa”. Sedação paliativa e eutanásia foram vistas como alternativas aceitáveis por mais da metade dos médicos. Cerca de um terço dos participantes indicou o suicídio assistido como uma escolha possível.
- Fatores que influenciam as escolhas: Idade, sexo e etnia não influenciaram significativamente as escolhas dos médicos. Religiosidade e legislação local foram fatores importantes na aceitação da eutanásia e do suicídio assistido. Médicos menos religiosos tendem a ser mais favoráveis a essas práticas.
Situação no Brasil
O estudo destaca que o acesso limitado a cuidados paliativos afeta o debate no Brasil, onde a política pública foi criada só em 2023 e há cerca de 500 especialistas no país. A formação nessa área também é restrita nas faculdades de saúde.
Pesquisas da Unesp e UFPR mostram que valores culturais e religiosos influenciam a percepção sobre o fim da vida: no Brasil, a espiritualidade é central, enquanto em países como o Reino Unido predomina a busca por controle sobre a morte.