O Brasil está enfrentando uma grave crise relacionada à saúde mental dos trabalhadores, que atingiu níveis alarmantes. Com o afastamento de mais de 470 mil profissionais devido a transtornos como depressão e ansiedade apenas em 2024, o país está vivenciando o que pode ser descrito como uma verdadeira “epidemia de adoecimento mental” nos ambientes de trabalho.
O alerta foi feito por Pedro Tourinho, presidente da Fundacentro, que apontou que essa situação é reflexo de políticas públicas negligentes e de um cenário mais amplo de precarização das condições de trabalho.
Causas estruturais do adoecimento mental no trabalho
O aumento no número de afastamentos relacionados a transtornos mentais não é um fenômeno isolado ou temporário, mas o resultado de uma série de fatores estruturais no mercado de trabalho.
Tourinho destaca que a pressão insustentável por metas irrealizáveis, a falta de clareza nas funções, e a prevalência de relações de assédio moral no ambiente corporativo têm contribuído para o agravamento desse cenário.
Além disso, a jornada de trabalho exaustiva, principalmente a carga horária de 6 x 1 (seis dias de trabalho seguidos por um dia de descanso), se apresenta como um dos maiores obstáculos à preservação da saúde mental dos trabalhadores.
Para Tourinho, discutir e implementar o fim dessa jornada de trabalho é essencial para a promoção de ambientes mais saudáveis e produtivos.
Impacto das políticas de retrocesso na saúde do trabalhador
A crise de saúde mental no trabalho não é um fenômeno acidental, mas sim resultado de uma série de escolhas políticas ao longo dos últimos anos.
Durante os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, observou-se um desmonte das políticas de proteção à saúde e segurança dos trabalhadores, que facilitou a expansão de práticas empresariais que não respeitavam as condições mínimas de segurança e bem-estar.
O ataque sistemático às normas de saúde e segurança no trabalho, segundo Tourinho, não só comprometeu a qualidade de vida dos trabalhadores, mas também acelerou o desgaste emocional e psicológico das pessoas que, muitas vezes, são forçadas a se submeter a condições de trabalho desumanas.
Este retrocesso impactou diretamente o número de acidentes de trabalho, que em 2024 chegou a cerca de 740 mil, com 2,4 mil mortes, números que, segundo o presidente da Fundacentro, podem ser ainda maiores devido à informalidade crescente no mercado de trabalho.
Desafio das mudanças climáticas e a insegurança no trabalho ao ar livre
Além das questões relacionadas à gestão das condições de trabalho, as mudanças climáticas também estão contribuindo para agravar a insegurança nos ambientes de trabalho, especialmente aqueles que ocorrem ao ar livre.
O Brasil já possui uma histórica de adoecimento de trabalhadores rurais, como no setor sucroalcooleiro, onde as altas temperaturas e as condições de exaustão são causas recorrentes de mortes prematuras.
Tourinho alerta que, com as mudanças climáticas em curso, esse problema pode se estender a outros setores, como a construção civil e o agronegócio, expondo trabalhadores a riscos ainda maiores de doenças relacionadas ao calor extremo.
O impacto das mudanças climáticas no trabalho, especialmente para aqueles em funções externas, precisa ser reconhecido e abordado com políticas de proteção adequadas.
A necessidade de reconstrução das políticas de saúde e segurança no trabalho
Diante desse cenário alarmante, Pedro Tourinho destaca a importância de uma reconstrução das políticas públicas voltadas à saúde e segurança no trabalho. A autorização para a abertura de 65 novas vagas na Fundacentro, após mais de uma década de sucateamento da instituição, é vista como uma medida importante para reverter a atual crise.
Essa reconstrução é vista como um passo crucial não apenas para recuperar as perdas do passado, mas também para garantir a sustentabilidade e a eficácia das políticas de proteção ao trabalhador nos próximos anos.
Para Tourinho, a construção de ambientes de trabalho seguros e saudáveis é uma questão de justiça social. O trabalho é, ao mesmo tempo, um espaço de realização pessoal e de sofrimento, e a saúde do trabalhador deve ser tratada como uma prioridade para garantir que todos tenham condições dignas de vida e trabalho.
O papel da sociedade na transformação do cenário
Finalmente, a sociedade como um todo tem um papel fundamental na mudança desse quadro. O movimento em prol da saúde mental no trabalho precisa ser abraçado por todos: desde os empregadores, que devem repensar suas práticas e oferecer condições adequadas para o bem-estar dos seus colaboradores, até os sindicatos, que devem atuar ativamente na defesa dos direitos dos trabalhadores.
A conscientização da população sobre os riscos do adoecimento mental no ambiente de trabalho e a pressão por políticas públicas eficazes são essenciais para combater esse mal que afeta uma parcela significativa da força de trabalho brasileira.
No entanto, é necessário que a sociedade se mobilize para garantir que essa crise seja enfrentada de forma eficaz, para que os trabalhadores do Brasil possam exercer suas funções com dignidade, saúde e segurança.