Recentemente, o governo federal tem buscado uma abordagem mais estratégica para alcançar um eleitorado historicamente mais difícil de atrair: a classe média brasileira.
No episódio mais recente do podcast Frequência Política, diversas medidas foram discutidas, com foco no novo pacote econômico proposto pelo governo, que visa movimentar uma quantia bilionária para melhorar a vida desse público.
Conduzido por Paulo Gama, com a presença de especialistas como Bárbara Baião, Victor Scalet, Bianca Lima e João Paulo Machado, o episódio destacou a relevância e as consequências dessa ação no cenário político e econômico do país.
Classe média como foco
Historicamente, a classe média é vista como um grupo mais difícil de ser alcançado por políticas públicas voltadas ao bem-estar social, especialmente quando comparado a grupos mais vulneráveis.
Ao focar nesse setor, o governo busca não apenas alavancar o apoio popular, mas também estabelecer uma base sólida para o seu projeto de desenvolvimento econômico. As ações propostas visam melhorar a qualidade de vida da classe média, oferecendo benefícios como habitação e crédito, ao mesmo tempo em que buscam uma narrativa de inclusão e crescimento.
Criação da faixa 4 do Minha Casa, Minha Vida
Uma das principais medidas do pacote é a criação da Faixa 4 do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. Com essa nova faixa, famílias com renda mensal de até R$ 12 mil poderão acessar o financiamento de imóveis de até R$ 500 mil.
Este programa será uma das maiores movimentações de recursos do governo, com uma expectativa de movimentar até R$ 30 bilhões em 2025. Para viabilizar essa proposta, o governo contará com a realocação de recursos da Faixa 3 do programa, que atualmente atende famílias com renda de até R$ 8 mil.
Além disso, a medida contará com recursos do FGTS e do Fundo Social do pré-sal, com um decreto presidencial já autorizado para esse fim.
Crédito para reformas residenciais
Outra medida de grande impacto é a criação de uma linha de crédito voltada para pequenas reformas residenciais, apelidada pelo próprio presidente Lula de “crédito para puxadinhos”. A proposta destina R$ 3 bilhões remanescentes dos R$ 18 bilhões já autorizados pelo Fundo Social.
Essa iniciativa visa estimular a construção civil, um setor fundamental para a geração de empregos e o aquecimento da economia. A medida também atende a uma demanda crescente da classe média, que muitas vezes não possui recursos suficientes para realizar melhorias em seus imóveis, mas que se encontra em um momento de transição de classe social, buscando ascensão.
Reforma Tributária
No campo tributário, a reforma do Imposto de Renda, que visa aliviar a carga sobre a classe média, ainda aguarda progressos na Câmara dos Deputados. A proposta de correção da tabela do Imposto de Renda foi idealizada para reduzir o peso sobre esse segmento da população.
No entanto, o andamento da reforma está paralisado devido a disputas internas entre os partidos, especialmente dentro do União Brasil, o que tem gerado um clima de incerteza sobre a aprovação da medida. A reforma tributária é vista como um dos pilares essenciais para a conquista da classe média, uma vez que um alívio na tributação pode representar mais poder de compra e maior capacidade de consumo para esse grupo.
Desafio da inflação
Embora as medidas apresentem um potencial de estímulo à economia, especialmente através do consumo e dos investimentos públicos, elas levantam questões sobre o impacto na inflação. A Selic ainda está em níveis elevados, o que pode dificultar a manutenção da estratégia de desinflação adotada pelo Banco Central.
A ampliação de recursos para o financiamento de imóveis e a injeção de capital na construção civil podem gerar uma pressão adicional nos preços, complicando o trabalho do Banco Central de controlar a inflação.
Mesmo com a expectativa de um crescimento do PIB de até 2,5% em 2025, os desafios fiscais e macroeconômicos precisam ser cuidadosamente gerenciados para garantir que o crescimento seja sustentável e não exacerbado por uma inflação descontrolada.
Capital eleitoral
Politicamente, o governo busca usar essas medidas econômicas como uma forma de se aproximar da classe média e reforçar sua base de apoio. As iniciativas estão sendo alinhadas como parte de uma estratégia eleitoral, visando garantir apoio entre os eleitores mais exigentes e aqueles que, muitas vezes, se sentem desamparados pelas políticas públicas tradicionais.
A classe média, que já enfrenta um custo de vida elevado e desafios econômicos próprios, pode ver nessas propostas uma oportunidade de melhorar sua qualidade de vida. A narrativa que o governo escolher construir sobre essas políticas será crucial para determinar sua aceitação.
Para tanto, será importante não apenas a implementação eficaz das medidas, mas também a capacidade do governo de convencer o eleitorado de que suas ações representam uma melhoria real e duradoura para a classe média brasileira.
Desafios na implementação e na comunicação
Embora as propostas apresentadas sejam abrangentes e ambiciosas, o sucesso delas dependerá não apenas da aprovação e implementação eficaz no Congresso, mas também da capacidade de comunicação do governo. A classe média é um público exigente, que muitas vezes tem uma visão crítica sobre as políticas públicas.
Assim, o governo terá o desafio de não apenas aprovar as propostas, mas também de apresentar essas medidas de forma clara e persuasiva, mostrando como elas se traduzem em benefícios concretos para a população.