No início de abril, a empresa de biotecnologia Colossal Biosciences declarou ter atingido um marco sem precedentes: a desextinção do lendário lobo-terrível, animal que desapareceu da Terra há cerca de 10 mil anos.
O anúncio, que apresentou ao mundo três filhotes supostamente recriados por meio de engenharia genética, rapidamente se espalhou pelas manchetes globais, gerando tanto fascínio quanto desconfiança.
A ausência de dados científicos abertos à revisão por pares acendeu o alerta entre pesquisadores, que cobraram transparência e provas mais sólidas sobre a autenticidade do feito.
Agora, semanas após o anúncio inicial, a própria empresa reacende a controvérsia com uma nova declaração.
Lobo-Terrível da ciência moderna gera polêmica após revelação
Em entrevista concedida à revista New Scientist, a cientista-chefe da Colossal, Beth Shapiro, esclareceu que os animais divulgados como “lobos-terríveis” não são, na verdade, representantes reais da espécie extinta.
Segundo ela, os filhotes nascidos são lobos-cinzentos que passaram por cerca de vinte modificações genéticas com base em fragmentos de DNA extraídos de fósseis do lobo-terrível.
Essas alterações foram direcionadas a características físicas específicas, como mandíbula, estrutura corporal e padrões vocais.
A confissão contrasta diretamente com o discurso adotado pela empresa no anúncio inicial, quando afirmaram ter alcançado a “primeira desextinção bem-sucedida do mundo”.
Na ocasião, os animais foram até nomeados de forma simbólica – Romulus, Remus e Khaleesi – e celebrados como o renascimento de uma espécie desaparecida.
Agora, com o reconhecimento de que o DNA do lobo-terrível não foi reconstruído integralmente e que os novos animais são, essencialmente, híbridos modernos com aparência similar, o entusiasmo dá lugar à crítica.
Especialistas reagiram ao anúncio sobre Lobo-Terrível
Entre os especialistas, a mudança de tom é vista como uma correção necessária, mas tardia. Pesquisadores como Richard Grenyer, da Universidade de Oxford, apontam que os novos dados deixam claro que não houve uma verdadeira reversão da extinção.
Claudio Sillero, também de Oxford, destaca que a ausência de detalhes sobre aspectos comportamentais e fisiológicos dos animais recriados compromete ainda mais a validade científica do experimento.
A possibilidade de que os lobos-terríveis originais tivessem pelagem diferente, por exemplo, alimenta dúvidas sobre a fidelidade da recriação.
A controvérsia evidencia os desafios éticos e científicos da engenharia genética em animais extintos e reforça o apelo de especialistas por responsabilidade e rigor na comunicação científica.