A recente liberação de Janderson dos Santos Lopes, apontado como líder do Comando Vermelho (CV) em Mato Grosso, gerou grande repercussão, especialmente após a decisão judicial que autorizou sua soltura durante o Carnaval de 2025.
Mesmo com uma condenação de 39 anos de prisão, Janderson foi liberado temporariamente devido a um habeas corpus. Esta decisão e os eventos subsequentes revelam aspectos importantes do sistema judiciário e da atuação de organizações criminosas.
Liberação durante o Carnaval
Durante o plantão judiciário, na segunda-feira de Carnaval (3 de março de 2025), o advogado de Janderson apresentou um pedido de habeas corpus alegando excesso de prazo no processo-crime contra seu cliente.
Esse argumento é comum em casos de longa duração nos tribunais, quando se entende que o réu já deveria ter sido julgado ou que o andamento do processo é excessivamente moroso.
O juiz plantonista Francisco Alexandre Ferreira Mendes Neto, com base nesse pedido, determinou a soltura de Janderson, que foi formalizada no dia 4 de março pela juíza Luciana Braga Simão Tomazetti, responsável pela 1ª Vara Criminal de Primavera do Leste. Além disso, a decisão impôs medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de sair da comarca sem autorização judicial.
Revogação da liberação
A decisão favorável à soltura de Janderson, contudo, foi rapidamente revogada. Em 6 de março de 2025, o desembargador Hélio Nishiyama anulou a liminar concedida, argumentando que o réu ostenta uma pena (39 anos e 11 meses de reclusão) e que sua soltura representaria um risco, dada a gravidade dos crimes pelos quais foi condenado, como tráfico de drogas, associação para o tráfico, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
O desembargador ressaltou que, além da condenação já existente, Janderson tem um novo mandado de prisão em aberto. Mesmo com essa revogação, o suspeito ainda não foi recapturado, permanecendo foragido.
Atuação criminosa de Janderson
Janderson foi o principal alvo da Operação La Catedral, deflagrada pela Polícia Civil em maio de 2024. Antes de ser preso, ele já cumpria uma pena de 39 anos, mas, segundo as investigações, continuava a comandar atividades criminosas dentro da cadeia. Ele utilizava o sistema prisional para expandir suas operações, com destaque para a lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas.
A Polícia Civil descobriu que, mesmo preso, Janderson adquiriu um considerável patrimônio, incluindo a abertura de empresas de fachada, como uma loja de materiais de construção e uma transportadora.
Para operacionalizar suas atividades, ele adquiriu uma frota de caminhões e veículos de luxo, como uma VW Amarok, diversas Ford Ranger, Toyota Hilux, e até mesmo um Corolla Cross. Além disso, Janderson possuía cabeças de gado em uma propriedade rural em Poxoréu, região onde ele também se envolvia com atividades ilícitas.
Papel do sistema prisional e a corrupção
O aumento no patrimônio de Janderson e sua capacidade de operar dentro e fora da cadeia expõem falhas no sistema prisional. Segundo as investigações, ele contava com a anuência do diretor da Cadeia Pública de Primavera do Leste para realizar atividades pessoais durante o dia.
Além disso, havia alegações de pagamento de propina para garantir regalias dentro da prisão, como a possibilidade de trabalhar em suas empresas e estudar em faculdades, desrespeitando acordos judiciais estabelecidos.
A utilização de mão de obra de presos para fins pessoais de Janderson também foi identificada, o que revela a grave falta de fiscalização dentro das instituições prisionais. A colaboração de sua esposa, Thais Emilia Siqueira Silva, também foi um fator crucial, pois ela ajudava a operacionalizar parte das atividades ilícitas do marido.
A sociedade e o sistema judiciário precisam refletir sobre os mecanismos que podem ser mais eficazes na prevenção da reincidência e no combate às organizações criminosas que continuam a operar nas sombras do sistema.