Nos últimos dias, o grupo cristão Legendários passou a ocupar espaço nas redes sociais ao reunir centenas de homens em trilhas pelo Brasil, promovendo jornadas de espiritualidade e superação.
A proposta de conexão com Deus em meio à natureza conquistou influenciadores e anônimos e causou polêmica pelos altos valores cobrados pelo grupo.
No entanto, a recente repercussão tem um tom menos inspirador: imagens divulgadas na internet mostram lixo abandonado por participantes em área protegida, e o Instituto Estadual de Florestas (IEF) afirma que o grupo atuou sem permissão no Parque Estadual da Serra do Ouro Branco, em Minas Gerais.
Instituto diz que Legendários fez evento sem permissão
O evento em questão realizado pelo Legendários aconteceu entre os dias 10 e 13 de abril e levou cerca de 400 pessoas à unidade de conservação, localizada a 110 km de Belo Horizonte.
O IEF informou que a solicitação para realizar a atividade foi enviada de forma incompleta e com prazo insuficiente — apenas dois dias antes do início da travessia, e apesar da recusa do instituto, o grupo realizou o evento assim mesmo.
O plano de manejo do parque é claro ao limitar o uso do espaço a atividades de ecoturismo, pesquisa e educação ambiental, sendo proibido o acampamento e limitado o número de visitantes em trilhas, que não devem ultrapassar 60 pessoas por dia.
Além de desrespeitar essas regras, o grupo Legendários foi acusado por frequentadores de deixar lixo espalhado pela mata. Um ciclista que passava pelo local registrou a sujeira, que incluía resíduos plásticos e restos de alimentos.
A repercussão gerou indignação, especialmente diante do lema promovido pelo próprio movimento: “deixar o lugar melhor do que encontrou”.
Em resposta, um dos coordenadores admitiu o erro e disse que a limpeza foi feita apenas no dia seguinte, após mobilização de visitantes e autoridades.
O que é o grupo Legendários?
O Legendários surgiu em 2015 na Guatemala, com foco em transformar a vida de homens por meio da fé cristã e de desafios físicos. Desde então, se expandiu para 18 países, chegando ao Brasil em 2017.
Os encontros, que misturam pregações e exercícios intensos, atraem empresários e celebridades — e também geram debates. Frequentadores ilustres incluem o pai do jogador Neymar e os influenciadores Gustavo Tubarão e Tiago Nigro, conhecido como “Primo Rico”.
Parte da crítica feita nas redes sociais e entre parte dos cristãos gira em torno dos valores cobrados pelo grupo por quem deseja participar das atividades: experiências que variam de R$ 450 até pacotes superiores a R$ 80 mil.
Diante da ideia de que a espiritualidade deveria ser acessível a todos e possível em qualquer lugar, os preços alimentam discussões sobre elitização da fé.
O IEF finaliza um relatório técnico e deve encaminhar o caso à administração do parque, que poderá aplicar advertências e multas por infrações ambientais.