Milhares de gerentes das agências dos correios do Reino Unido foram vítimas de uma das maiores injustiças judiciais da história recente do país.
Entre 1999 e 2015, cerca de mil gerentes foram acusados injustamente de roubo com base em informações equivocadas geradas por um software de contabilidade chamado Horizon, desenvolvido pela Fujitsu. Agora, após anos de luta, esses profissionais estão recebendo indenizações milionárias do governo britânico.
Origem do problema
O cerne do problema esteve no sistema informatizado Horizon, utilizado pelos Correios britânicos para gerenciar transações financeiras.
Apesar de ser essencial para o funcionamento das agências, o software apresentou falhas graves que resultaram em registros errôneos, indicando supostas perdas financeiras que, na verdade, não existiam.
Consequentemente, gerentes de várias agências foram acusados de roubo, baseando-se unicamente nessas evidências falhas.
Impactos devastadores na vida dos gerentes
As acusações baseadas em dados errôneos tiveram consequências profundas na vida dos gerentes. Muitos foram forçados a devolver quantias substanciais de dinheiro, o que levou alguns à falência pessoal.
Além disso, houve casos em que esses profissionais foram presos e processados criminalmente. A experiência marcou suas vidas para sempre, afetando reputações, carreiras e saúde mental.
Reconhecimento e retratação pública
O caso voltou a ganhar destaque em janeiro de 2024, com a exibição de uma série documental pela emissora ITV, que acompanhou a luta judicial de Alan Bates, um dos gerentes injustamente acusado. Essa repercussão trouxe à tona a dimensão do erro e gerou forte comoção pública.
O ex-primeiro-ministro Rishi Sunak classificou o episódio como “um dos maiores erros judiciais da história do Reino Unido”, demonstrando o reconhecimento oficial do impacto e gravidade do problema.
Indenizações e valores envolvidos
Até o início de junho de 2025, o Ministério do Comércio britânico anunciou o pagamento de cerca de 1,04 bilhão de libras em indenizações, o equivalente a aproximadamente 7,8 bilhões de reais, para mais de 7.300 pessoas que haviam apresentado reclamações.
O número total de reivindicações ultrapassou 11 mil. Somente 416 ex-gerentes, incluindo Alan Bates, que conseguiram anular as acusações na justiça, receberam individualmente 167 milhões de libras. Apesar do montante recorde, as indenizações foram consideradas insuficientes por muitos dos prejudicados.
Críticas ao sistema de indenizações
Mesmo após o pagamento das indenizações, o processo de reparação foi alvo de críticas. Alan Bates, por exemplo, afirmou que o valor oferecido a ele não cobria nem metade do que ele considerava justo.
Outros ex-gerentes questionaram a morosidade e a burocracia no reconhecimento dos seus direitos e compensações. A discussão permanece acesa sobre como garantir que as vítimas sejam plenamente ressarcidas e amparadas, tanto financeiramente quanto emocionalmente.
O caso destaca também a importância da transparência e da rapidez na correção desses erros, bem como a necessidade de se estabelecer mecanismos eficientes para amparar aqueles que foram injustamente prejudicados.
As instituições envolvidas e a sociedade devem aprender com essa falha para evitar que situações semelhantes ocorram no futuro.