Com o crescente desejo de melhorar a qualidade de vida e a produtividade, a redução da jornada de trabalho tem se tornado um tema cada vez mais discutido por empresas e trabalhadores ao redor do mundo. Especialmente no Brasil, onde milhões de trabalhadores sonham em diminuir a carga horária para poderem passar mais tempo com a família, a proposta de uma semana de trabalho de 4 dias começa a ganhar força.
A ideia não é recente, mas foi intensificada durante a pandemia de COVID-19, quando a adoção do home office trouxe à tona várias reflexões sobre a produtividade e a gestão do tempo.
O despertar do desejo por uma semana de 4 dias
Antes da pandemia, algumas empresas já começavam a experimentar a ideia de uma jornada de trabalho reduzida. Contudo, a crise sanitária acelerou esse movimento, pois a necessidade de adaptação ao novo cenário trouxe questões essenciais à tona: Será que a produtividade realmente depende das 40 horas semanais? Qual o impacto ambiental de menos carros nas ruas? A presença física no escritório é realmente necessária para a realização do trabalho?
Essas perguntas passaram a ser discutidas com mais intensidade, tanto entre líderes empresariais quanto entre os colaboradores.
Andrew Barnes, empresário neozelandês e fundador da Perpetual Guardian, uma empresa que implementou com sucesso a jornada de 4 dias, destaca que, em países como o Reino Unido e o Canadá, a produtividade diária está abaixo de 3 horas.
Isso sugere que, com menos horas de trabalho, os funcionários tendem a ser mais focados, já que a escassez de tempo pode intensificar o esforço e melhorar a performance. Barnes argumenta que trabalhar menos dias pode ser uma chave para aumentar a eficiência, ao contrário do que se imaginava.
Como funciona a semana de 4 dias:?
Adotar uma semana de trabalho de 4 dias pode ser feito de diferentes formas, dependendo das necessidades e do modelo de cada empresa. Algumas adotam o modelo tradicional de segunda a quinta-feira, com 8 horas de trabalho por dia, totalizando 32 horas semanais, e a sexta-feira é automaticamente incorporada ao fim de semana. Esse modelo elimina a necessidade de horas extras, já que o expediente de 4 dias é compensado com a redução de um dia de trabalho.
Outras empresas, como a agência digital Versa, têm experimentado folgas às quartas-feiras, o que ficou conhecido como “No Work Wednesday”. Essa prática vem se espalhando, especialmente na Austrália, onde a demanda por bem-estar no trabalho tem sido cada vez mais priorizada.
A Redback Solutions, por exemplo, adotou esse modelo após observar que seus funcionários estavam ficando mais cansados ao longo da semana, promovendo um equilíbrio maior ao dividir os dias de descanso durante a semana.
Experiência no Brasil
No Brasil, a ideia de adotar a jornada de trabalho reduzida tem sido testada por diversas empresas, com resultados positivos. A Zee.Dog, por exemplo, implementou a quarta-feira como dia de folga em 2020 e viu um aumento de 20% na produtividade de seus colaboradores. A Crawly, uma startup mineira, segue esse modelo desde 2017 e observa um engajamento maior por parte dos funcionários e menor rotatividade.
Mais recentemente, o projeto “4 Day Week Brazil”, em parceria com a organização global “4 Day Week Global”, realizou testes com mais de 20 empresas brasileiras, incluindo o Hospital Indianópolis, a Editora Mol e a Thanks for Sharing. De acordo com os resultados do estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), 61,5% das empresas participantes relataram melhorias na execução de projetos, e 58,5% viram um aumento na criatividade de seus colaboradores.
Para os trabalhadores, a experiência trouxe benefícios como um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, redução do estresse e maior disposição para lazer, com 64,9% dos participantes afirmando não se sentirem mais desgastados ao final do dia.
A legislação trabalhista no Brasil e a adaptação para a redução da carga horária
Atualmente, a legislação trabalhista brasileira estabelece uma jornada semanal de até 44 horas, com a possibilidade de redução do tempo de trabalho desde que seja negociada entre empregador e empregado, respeitando as convenções coletivas e os acordos trabalhistas. Isso abre espaço para que as empresas adaptem suas jornadas de trabalho, sem descumprir a CLT, desde que se respeitem os direitos dos trabalhadores.
Para adotar a semana de 4 dias sem infringir a legislação, as empresas precisam formalizar a mudança através de acordos coletivos, com a participação dos sindicatos e, em alguns casos, ajustes nos contratos de trabalho. Além disso, a redução de jornada pode ser implementada de maneira gradual, observando os resultados da mudança para garantir a produtividade desejada.
Tendência crescente ou exceção?
O conceito de uma semana de 4 dias não é uma tendência isolada de algumas empresas; ele reflete um movimento global que visa repensar a forma como o trabalho é estruturado. Países como Dinamarca, França, Espanha e Reino Unido já estão implementando projetos-piloto e regulamentando o modelo de jornada reduzida. No Brasil, o experimento de 2024 está demonstrando que a mudança tem trazido resultados positivos tanto para os empregadores quanto para os empregados.
Embora a adaptação para uma jornada reduzida não seja simples e envolva negociações complexas, os resultados observados nos estudos e experimentos realizados até o momento apontam para uma maior satisfação dos trabalhadores e um aumento da produtividade nas empresas. Além disso, com a crescente valorização do bem-estar dos colaboradores, a semana de 4 dias pode se tornar uma prática cada vez mais comum no Brasil.
A medida promete transformar a forma como o trabalho é encarado, e com o aumento de empresas adotando essa jornada reduzida, podemos esperar que mais brasileiros experimentem os benefícios de trabalhar menos, mas com mais qualidade e satisfação.