A disputa comercial entre Estados Unidos e China ganhou uma nova dimensão, indo além das medidas econômicas tradicionais. Após o governo norte-americano elevar em 125% as tarifas sobre produtos chineses, a China respondeu de maneira não convencional: ao invés de uma retaliação direta, escolheu expor a forte dependência das marcas ocidentais da sua cadeia produtiva — em especial, no mercado de artigos de luxo.
Como parte dessa resposta, fabricantes chineses começaram a publicar vídeos no TikTok que revelam os bastidores da produção de bolsas de grifes famosas como Hermès, Louis Vuitton e Prada. As gravações mostram que esses produtos, comercializados sob o selo da exclusividade e do requinte, são na verdade confeccionados em fábricas comuns, semelhantes às que produzem cópias ou itens sem marca.
Grifes expostas pela China
Para a professora Elaini Silva, doutora em direito internacional pela USP e docente da PUC-SP, a estratégia adotada por Pequim não constitui uma violação direta das normas da Organização Mundial do Comércio (OMC), conforme explicou ao jornal GGN.
Embora a proteção às marcas tenha sido uma condição para a entrada do país na OMC nos anos 2000, o novo cenário de confronto tarifário levou o governo chinês a adotar um caminho alternativo: lançar luz sobre os bastidores da produção global. Com isso, expôs contradições profundas do setor das grifes de luxo e fragilizou o mito do feito à mão e do artesanal — pilares que sustentam o prestígio dessas grifes no imaginário ocidental.
Repercussões
A terceirização e a produção em larga escala, embora há muito tempo discutidas no meio acadêmico, agora ganharam visibilidade junto ao público geral — e em um cenário marcado pela tensão entre potências globais. “Hoje, o apelo da exclusividade conta mais do que a origem real dos produtos. É uma construção de marketing”, analisa Elaini.
O episódio também lança dúvidas sobre o compromisso de algumas marcas de luxo com os princípios ESG — sigla para sustentabilidade, ética e governança. A dependência de cadeias produtivas massificadas na China entra em conflito direto com o discurso de responsabilidade social e ambiental adotado por essas empresas.