Após se tornar delator no escândalo contábil que abalou a Americanas, o ex-diretor financeiro da companhia, Fábio da Silva Abrate, decidiu empreender na Rocinha, uma das maiores comunidades do Rio de Janeiro.
Com dificuldades para retornar ao mercado de trabalho após sua colaboração com o Ministério Público Federal, ele optou por abrir um bar, buscando uma nova fonte de renda e tentando reconstruir sua imagem pública.
Ex-diretor da Americanas abre estabelecimento na Rocinha
Segundo a Folha de São Paulo, a escolha por um empreendimento próprio surgiu como alternativa à falta de oportunidades no setor corporativo.
Desde que deixou a Americanas em 2023, o ex-diretor relatou ter enfrentado forte resistência para assumir novos cargos executivos, reflexo direto da exposição negativa que sofreu após sua delação premiada.
Ele chegou a fundar uma consultoria e teve uma breve experiência na rede de moda Zinzane, mas nenhuma dessas tentativas resultou em estabilidade.
O ex-diretor explicou que a proposta inicial da Zinzane foi insatisfatória em termos de remuneração e, mesmo após negociações para elevar o salário a cerca de R$ 100 mil mensais, a parceria não evoluiu.
A situação se agravou quando, pouco após sua entrada na empresa, a Polícia Federal deflagrou a operação Disclosure, em junho de 2024, ampliando a pressão sobre seu nome e levando-o a se afastar definitivamente da função.
O bar, batizado de Brasa Boteco, foi inaugurado em janeiro de 2024. A iniciativa começou como uma sociedade com o pai de Abrate e um gerente da comunidade. Pouco tempo depois, ele adquiriu a parte do gerente, ficando com 80% do negócio.
O projeto, segundo o ex-diretor da Americanas, busca oferecer um ambiente digno, com boa comida, bebida e atendimento feito por moradores da própria Rocinha, além de atrações como música ao vivo e transmissões esportivas.
Rombo da Americanas prejudicou milhares de acionistas
A delação de Abrate integra a investigação sobre o rombo contábil da Americanas, que revelou fraudes bilionárias e práticas de maquiagem fiscal.
Estimativas indicam um prejuízo de mais de R$ 20 bilhões, causado por operações irregulares que ocultaram dívidas e inflaram artificialmente os resultados da varejista.
A crise provocou perdas para milhares de investidores e abalou a credibilidade do mercado financeiro brasileiro.
Abrate, ao colaborar com a Justiça, detalhou o funcionamento do esquema, apontando omissões sistemáticas e decisões orquestradas dentro da companhia para maquiar os balanços financeiros.
Hoje, longe das salas de reunião e dos holofotes corporativos, o ex-diretor tenta recomeçar sua vida em meio aos becos da Rocinha, apostando que um negócio local pode ser seu caminho para reconstrução.