A Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC), vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS), tem alertado sobre a associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e o aumento do risco de desenvolvimento de vários tipos de câncer.
Publicado recentemente no European Journal of Nutrition, um estudo que analisou dados de mais de 450 mil europeus concluiu que o aumento de 10% na ingestão desses alimentos elevou em 23% o risco de câncer de cabeça e pescoço e em 24% o de adenocarcinoma de esôfago.
A pesquisa faz parte da Investigação Prospectiva Europeia sobre o Câncer e a Nutrição (EPIC), uma das maiores da Europa. Seus resultados reforçam um crescente corpo de evidências que conecta ultraprocessados a doenças crônicas e alta mortalidade.
É importante mencionar que os dados são ainda mais preocupantes ao se considerar o cenário atual de consumo, com países como Estados Unidos e Inglaterra registrando que mais de 50% da ingestão calórica da população já vem desses produtos.
O que são alimentos ultraprocessados e por que eles preocupam?
Ultraprocessados são produtos industrializados compostos majoritariamente por substâncias derivadas de alimentos, como amidos modificados, óleos hidrogenados e aditivos artificiais. São itens como refrigerantes, salgadinhos, nuggets, biscoitos recheados, cereais matinais açucarados, iogurtes aromatizados e sopas instantâneas.
Esses alimentos oferecem praticidade e custo acessível, mas apresentam baixo valor nutricional, alta densidade calórica e grandes quantidades de açúcares, sódio e gorduras saturadas. Diversos estudos apontam que seu consumo em excesso está associado à obesidade, inflamação crônica e desequilíbrios metabólicos, fatores diretamente ligados ao surgimento de câncer.
A pesquisa liderada pela USP em parceria com universidades do Reino Unido apontou que o consumo elevado de ultraprocessados aumenta em 7% o risco de câncer em geral, em 25% o risco de câncer de pulmão e chega a elevar em até 63% o risco de linfoma.
Estilo de vida moderno favorece escolhas menos saudáveis
A vida urbana contemporânea, marcada pelo sedentarismo e pela falta de tempo para o preparo de refeições, favorece a escolha por alimentos prontos e ultraprocessados. Além disso, fatores como inflação e logística dificultam o acesso da população a alimentos frescos, especialmente em regiões mais vulneráveis.
Estudos de coorte demonstram que pessoas com maior consumo de ultraprocessados tendem a apresentar também piores condições socioeconômicas, o que pode contribuir para o agravamento de indicadores de saúde. Apesar das evidências ainda não confirmarem uma relação causal direta, o padrão alimentar observado é suficiente para acender o sinal de alerta entre especialistas.
Para reduzir o risco de câncer, órgãos como o INCA e a Organização Pan-Americana da Saúde recomendam uma dieta rica em alimentos in natura, como frutas, legumes, grãos integrais e proteínas não processadas, aliada à prática regular de atividade física e à realização de exames preventivos conforme a faixa etária.