Um levantamento recente realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e publicado em fevereiro de 2025 na revista Environmental Science and Pollution Research indica que a pecuária bovina no Brasil está muito além dos níveis aceitáveis de emissão de gases de efeito estufa para o cumprimento dos compromissos climáticos internacionais.
Segundo o estudo, as emissões projetadas para o setor pecuário até 2030 variam entre 0,42 e 0,63 gigatoneladas de CO2 equivalente (GtCO2e), mais que o dobro do limite de 0,26 GtCO2e estabelecido para que o país esteja alinhado às metas ambientais pactuadas no Acordo de Paris.
Metas do setor pecuário
A meta de redução de emissões integra as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do Brasil, acordadas no âmbito do Acordo de Paris de 2015, com a previsão de corte de 43% até 2030, em comparação aos níveis de 2005.
Para chegar a esses dados, as pesquisadoras utilizaram informações do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) e projeções fornecidas pelo Ministério da Agricultura sobre a produção de carne no Brasil nos próximos anos.
O estudo revela que, para cada tonelada de carne bovina produzida, são emitidas 51,86 toneladas de CO2 equivalente. Contudo, a pesquisa não considerou fontes indiretas de emissão, como o desmatamento e o uso de equipamentos agrícolas, sugerindo que o impacto real da atividade pecuária pode ser ainda mais significativo.
Prejuízos econômicos
Além de analisar o impacto ambiental, a pesquisa também abordou as consequências econômicas das emissões. Utilizando o conceito de custo social do carbono (CSC), os pesquisadores estimaram que, sem ações de mitigação, o Brasil pode enfrentar perdas econômicas entre US$ 18,8 bilhões e US$ 42,6 bilhões até 2030. Esses danos incluem efeitos na saúde, na agricultura e em eventos climáticos extremos.
As autoras enfatizam que o objetivo do estudo não é criticar o consumo ou a produção de carne, mas sim promover uma mudança no modelo produtivo atual, que é altamente intensivo em carbono e ambientalmente ineficiente. Elas defendem a implementação de políticas públicas eficazes, o aumento da adoção de práticas sustentáveis e o incentivo à participação no Plano ABC+, que oferece apoio técnico e financeiro para uma agropecuária com menores emissões.