Além do declínio cognitivo, a perda auditiva é uma das condições mais frequentes entre os idosos, sendo considerada uma consequência natural do envelhecimento. A partir dos 60 anos, a dificuldade para ouvir torna-se mais comum, afetando progressivamente a qualidade de vida.
No entanto, ao impactar a comunicação de quem convive com esse problema, novas pesquisas apontam que a perda de audição pode ter efeitos ainda mais profundos: está associada a um ritmo mais acelerado de declínio das funções cognitivas.
Estudo revela que declínio cognitivo é associado à perda auditiva
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) analisaram dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA Brasil) e constataram que pessoas com algum grau de perda auditiva apresentaram pior desempenho cognitivo ao longo de oito anos.
A análise envolveu mais de 800 participantes, avaliados em diferentes momentos, com testes que mediram memória, fluência verbal e raciocínio.
Aqueles que tinham audição comprometida mostraram uma queda mais acentuada na capacidade mental, ou seja, um declínio cognitivo mais rápido, mesmo após o controle de variáveis como doenças crônicas e nível educacional.
Os especialistas sugerem duas explicações principais para essa relação. A primeira é que a redução dos estímulos auditivos pode comprometer a atividade cerebral.
Sem o estímulo constante proporcionado pela audição, regiões do cérebro ligadas à linguagem, memória e atenção podem sofrer alterações, diminuindo a chamada reserva cognitiva.
A segunda hipótese envolve o impacto social: dificuldades para ouvir podem levar ao isolamento, já que a interação social se torna mais difícil. Esse afastamento das relações sociais também reduz a estimulação mental, favorecendo o declínio cognitivo e o avanço de quadros como a demência.
O que o estudo revela e como prevenir o declínio cognitivo
Na prática, isso significa que pessoas com perda auditiva não apenas enfrentam barreiras na comunicação, mas também estão mais vulneráveis a doenças neurológicas causadas pelo declínio cognitivo.
O diagnóstico precoce e o uso de aparelhos auditivos podem fazer diferença, especialmente em indivíduos que já apresentam outros fatores de risco para o comprometimento cognitivo.
A prevenção passa por cuidados simples, como evitar a exposição a ruídos intensos, manter hábitos saudáveis e tratar condições como hipertensão e diabetes, que também afetam a saúde auditiva.
Além disso, profissionais de saúde reforçam a importância de monitorar a audição regularmente, já que a perda auditiva tende a ser gradual e muitas vezes imperceptível no início. Detectar o problema cedo pode ser crucial para proteger também o cérebro.