Na Antártida, cientistas identificaram um fenômeno curioso: nuvens influenciadas pelo guano de pinguins podem estar contribuindo para o equilíbrio climático da região. O estudo, publicado na revista Communications Earth & Environment, revela como processos naturais simples podem ter impacto direto na atmosfera.
Em geral, nuvens refletem a luz solar e ajudam a resfriar o planeta. Porém, na Antártida, onde o gelo já reflete grande parte da radiação, nuvens menos reflexivas que a neve podem reter calor e contribuir para o aquecimento da superfície.
Cocô de pinguins
Apesar das variações possíveis, os pesquisadores acreditam que, na maioria dos casos, as nuvens formadas a partir do guano contribuem para o resfriamento. Matthew Boyer, autor do estudo, afirma que os modelos climáticos sugerem esse efeito, e novas medições estão sendo feitas para confirmá-lo.
- Local e data: Em janeiro de 2023, cientistas realizaram medições na Base Marambio, na Península Antártica.
- Colônia estudada: Aproximadamente 60 mil pinguins-de-adélia foram monitorados durante o período reprodutivo.
- Produção de guano: Alimentando-se intensamente de peixes e krill, os pinguins deixaram grande quantidade de guano no solo, rico em nitrogênio.
- Formação de nuvens: A decomposição do guano libera amônia, que, ao se combinar com enxofre do fitoplâncton marinho, gera partículas de aerossol — base das nuvens.
- Medições: Sensores a 8 km da colônia detectaram níveis de amônia até mil vezes acima do normal. Após a temporada, os níveis ainda eram 100 vezes maiores devido à permanência do guano.
- Neblina acelerada: A alta concentração de amônia e compostos como dimetilamina facilitou a formação de neblina em 3 a 4 horas, acelerando a produção de partículas em até 10 mil vezes.
- Estudo comparativo: Pesquisa de 2016 no Ártico apontou efeito semelhante com aves marinhas, com impacto de resfriamento superior a 1 W/m².
- Conclusão: Colônias maiores podem gerar nuvens mais densas, com gotículas menores que refletem mais luz solar e reduzem a precipitação, contribuindo para o resfriamento da região.
Impacto no clima
Embora ainda haja dúvidas sobre como esse processo poderá mudar, especialmente com a possível redução ou redistribuição das populações de pinguins, os cientistas destacam a importância de preservar os ecossistemas antárticos.
“Entender o que ocorre na Antártida ajuda a prever mudanças em outras regiões”, disse Boyer à ABC News. Surpreendentemente, até o cocô dos pinguins pode estar ajudando o planeta a se proteger das mudanças climáticas.