Fungos são organismos que fazem parte do cotidiano do planeta. Presentes em solos, águas e matéria orgânica, eles desempenham papéis fundamentais nos ecossistemas, como decomposição e ciclagem de nutrientes.
No entanto, alguns fungos são agentes causadores de infecções graves em humanos, responsáveis por milhões de mortes anualmente. Apesar disso, a atenção da ciência e da saúde pública sobre essas doenças é limitada, deixando o mundo vulnerável a uma ameaça que cresce silenciosamente.
Estes organismos se manifestam em formas variadas, desde bolores e leveduras até cogumelos. Sua dispersão é facilitada pela produção de esporos microscópicos que estão literalmente no ar que respiramos. A maioria das pessoas inala esses esporos sem consequências, graças a um sistema imunológico saudável que impede sua proliferação dentro do corpo.
Aspergillus
O gênero Aspergillus é um dos mais comuns e estudados, contendo espécies que causam a aspergilose, uma infecção pulmonar severa. Esse fungo cresce em filamentos em solos ao redor do mundo e libera esporos que podem ser inalados.
Para indivíduos com imunidade comprometida ou doenças respiratórias pré-existentes, o Aspergillus pode se tornar fatal, “consumindo” o paciente de dentro para fora.
Pesquisas recentes da Universidade de Manchester indicam que o aquecimento global está criando condições propícias para a expansão do Aspergillus para regiões antes inóspitas.
Simulações climáticas projetam que áreas da América do Norte, Europa, China e Rússia poderão sofrer aumento significativo na presença desses fungos, elevando o risco de infecções.
Expansão geográfica e aumento da incidência
- A espécie que prefere climas tropicais pode expandir sua área em 16% com a continuidade das emissões de gases poluentes.
- Espécies temperadas podem se expandir em até 77,5% até 2100, levando a nove milhões de novas exposições na Europa.
- Algumas regiões extremamente quentes, como partes da África Subsaariana, podem tornar-se menos favoráveis para esses fungos, causando desequilíbrios ecológicos.
Além da expansão territorial, os fungos estão desenvolvendo resistência aos poucos antifúngicos disponíveis, tornando os tratamentos menos eficazes e agravando o risco de mortalidade.
Desafios no diagnóstico e tratamento
A aspergilose apresenta sintomas comuns a outras doenças respiratórias, como tosse e febre, dificultando seu reconhecimento precoce pelos médicos. A taxa de mortalidade é alta, variando entre 20% e 40%, e os tratamentos são limitados a apenas quatro classes de medicamentos antifúngicos, o que é preocupante diante da crescente resistência.
Fenômenos como secas, enchentes e ondas de calor podem facilitar a dispersão dos esporos por longas distâncias, ampliando surtos fúngicos. Casos registrados após desastres naturais, como o tornado de 2011 nos EUA, evidenciam essa correlação.
Apesar do impacto mortal, infecções fúngicas permanecem pouco estudadas e subnotificadas. A falta de dados sobre incidência e distribuição limita a capacidade das autoridades de saúde de monitorar, prevenir e tratar essas doenças.
Importância de conscientizar e investir em pesquisas
O fenômeno ganhou atenção popular graças a obras de ficção como a série “The Last of Us”, que imagina um mundo devastado por fungos mutantes. Embora fictício, o cenário ressalta a importância de reconhecer a ameaça real representada por esses organismos.
Especialistas destacam a necessidade urgente de ampliar pesquisas, desenvolver novos medicamentos antifúngicos e implementar políticas públicas focadas na prevenção e controle dessas infecções.
Além da saúde humana, fungos do gênero Aspergillus infectam culturas agrícolas, ameaçando a segurança alimentar global. O impacto ecológico das mudanças na distribuição fúngica também pode afetar a saúde do solo e o equilíbrio ambiental.
É essencial que a comunidade científica, governos e sociedade civil se mobilizem para ampliar a compreensão, melhorar o diagnóstico e tratamento, e mitigar os efeitos das mudanças climáticas sobre essas infecções.