Um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade Concórdia, no Canadá, oferece uma nova perspectiva sobre os benefícios do bilinguismo, destacando que falar mais de um idioma pode atrasar os sintomas do Alzheimer em até cinco anos.
Publicado na revista Bilingualism: Language and Cognition, o estudo se baseia em imagens cerebrais de adultos mais velhos para analisar o impacto do bilinguismo na resiliência cerebral e no envelhecimento cognitivo. Este estudo revela insights cruciais sobre o impacto da fluência em duas ou mais línguas na saúde cerebral, particularmente no que se refere ao Alzheimer.
O estudo e suas descobertas
O estudo teve como objetivo investigar como o bilinguismo afeta a saúde cerebral de indivíduos com diferentes níveis de cognição e envelhecimento. Os pesquisadores analisaram adultos mais velhos, dividindo-os em grupos de acordo com a sua fluência em idiomas e o estado de sua cognição:
- Indivíduos cognitivamente saudáveis
- Indivíduos com risco de declínio cognitivo subjetivo (como mudanças na memória, linguagem e orientação que não são detectadas objetivamente)
- Indivíduos com comprometimento cognitivo leve
- Indivíduos diagnosticados com Alzheimer
A principal área de análise foi o hipocampo, uma região do cérebro essencial para o aprendizado e a memória, e que é amplamente afetada pelo Alzheimer. O estudo se concentrou em observar a resistência cerebral em regiões do cérebro associadas à linguagem e ao envelhecimento.
Impacto do biliguismo no cérebro
Um dos achados mais significativos do estudo é a relação entre o bilinguismo e a preservação do hipocampo. Os pesquisadores descobriram que indivíduos bilíngues com Alzheimer apresentaram hipocampos significativamente maiores e com mais massa cerebral em comparação com os monolíngues da mesma faixa etária, nível educacional e função cognitiva.
- Hipocampo preservado nos bilíngues: O estudo observou que os bilíngues tinham uma preservação maior do hipocampo, o que pode indicar uma maior resistência ao Alzheimer, mesmo em estágios mais avançados da doença.
- Atrofia cerebral em monolíngues: Já entre os monolíngues, especialmente os com comprometimento cognitivo leve ou Alzheimer, os hipocampos apresentaram sinais claros de atrofia, ou seja, uma perda de massa cerebral, o que é típico de pessoas com doenças neurodegenerativas.
Esses achados sugerem que o cérebro bilíngue parece ser mais capaz de resistir às lesões causadas pela doença de Alzheimer, o que pode resultar em um atraso significativo nos primeiros sintomas da doença.
Como o bilinguismo atrasaria o Alzheimer?
A explicação para esses resultados está na teoria de que o bilinguismo pode promover uma maior atividade cognitiva, o que fortalece as conexões neuronais e melhora a capacidade do cérebro de lidar com danos.
O fato de alternar entre dois ou mais idiomas exige que o cérebro atue em níveis mais complexos, o que pode ajudar a aumentar a “reservação cognitiva”. Essa reserva é um termo utilizado para descrever a capacidade do cérebro de resistir a danos sem mostrar sintomas claros de declínio cognitivo.
A constante estimulação das áreas cerebrais associadas à linguagem ajuda na formação de novas conexões neuronais e pode proteger o cérebro contra os efeitos degenerativos do Alzheimer. Assim, a prática de ser bilíngue teria um efeito protetor que desaceleraria o início dos sintomas da doença.
Biliguismo como estratégia preventiva
Esses resultados têm implicações para as estratégias de prevenção do Alzheimer. Embora o bilinguismo não seja uma solução definitiva para a doença, o estudo sugere que aprender uma nova língua pode ser uma estratégia eficaz para melhorar a saúde cerebral, especialmente com o envelhecimento.
- Educação e saúde pública: Este estudo pode abrir portas para novas abordagens em programas de saúde pública, incentivando o aprendizado de idiomas como uma forma de reduzir o risco de doenças neurodegenerativas.
- Importância do envelhecimento ativo: Além disso, reforça a importância de atividades cognitivamente estimulantes na terceira idade, como aprender um novo idioma, resolver quebra-cabeças e manter uma vida social ativa, que podem atuar como “exercícios cerebrais” e retardar o envelhecimento cognitivo.
Limitações e necessidade de mais estudos
Embora as descobertas deste estudo sejam promissoras, é importante ressaltar que ainda há muitas questões não resolvidas. O número de participantes foi relativamente pequeno, e mais pesquisas são necessárias para confirmar os resultados e entender melhor como o bilinguismo afeta o cérebro ao longo do tempo.
Além disso, fatores como a idade em que uma pessoa começa a aprender uma segunda língua e a intensidade com que a usa podem influenciar os efeitos observados.
Portanto, o estudo não apenas reforça a importância do bilinguismo como um recurso cognitivo, mas também destaca a importância de manter o cérebro em atividade, seja por meio de idiomas, jogos mentais ou outras formas de aprendizado contínuo.