O Biotônico Fontoura é um nome que ressurge rapidamente quando falamos sobre medicamentos populares que marcaram gerações no Brasil.
Lançado em 1910 pelo farmacêutico Cândido Fontoura, o produto conquistou um lugar de destaque nas prateleiras de farmácias e nas casas de inúmeras famílias brasileiras, principalmente durante as décadas de 1990 e 2000.
A sua popularidade foi tamanha que, por muitos anos, o Biotônico Fontoura parecia um remédio milagroso, essencial para o aumento do apetite, combate à fraqueza e até problemas de crescimento, especialmente entre crianças.
No entanto, o que muitos não sabem é que, ao longo de sua trajetória, o produto passou por controvérsias, envolvendo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que culminaram em uma reformulação forçada da sua fórmula e, mais recentemente, em sua proibição em algumas situações.
Início de um fenômeno
O Biotônico Fontoura surgiu com a proposta de ser um fortificante alimentar. Sua fórmula original, à base de ferro, foi amplamente promovida para aumentar o apetite das crianças e combater sintomas de anemia, fraqueza e até retardamento do crescimento.
Desde o começo, o produto atraiu a atenção pela sua fórmula simples e eficaz, aliada a um marketing agressivo que o tornava quase impossível de ser ignorado pelas famílias brasileiras.
O nome “Biotônico Fontoura” não foi uma escolha aleatória. O renomado escritor Monteiro Lobato, na época trabalhando com Cândido Fontoura no jornal O Estado de S. Paulo, contribuiu diretamente para o nome do medicamento.
Além disso, Lobato teve papel importante nas campanhas publicitárias que ajudaram a popularizar o produto, estabelecendo o Biotônico Fontoura como uma verdadeira marca nacional. A associação com o autor de obras icônicas como Sítio do Picapau Amarelo foi uma jogada estratégica que consolidou o medicamento na memória afetiva do povo brasileiro.
Teor alcoólico
O sucesso do Biotônico Fontoura, no entanto, não veio sem controvérsias. Um dos maiores pontos de discussão sobre o produto era o seu alto teor alcoólico. A fórmula original continha 9,5% de álcool, um percentual superior ao de muitas cervejas e vinhos.
Para muitas pessoas, especialmente para as mães que administravam o medicamento para seus filhos, isso parecia ser um detalhe secundário, já que o foco principal era a eficácia do produto no aumento do apetite.
Porém, a presença de álcool na composição do Biotônico começou a levantar preocupações de saúde pública, particularmente em relação ao consumo por crianças. O alto teor alcoólico podia provocar confusão mental e, a longo prazo, até predispor os jovens a problemas relacionados ao consumo de álcool na vida adulta.
Com a crescente conscientização sobre esses riscos, a Anvisa passou a olhar com mais atenção para a fórmula do produto.
Intervenção da Anvisa
Em 2001, a Anvisa, agência responsável pela regulação e fiscalização de medicamentos no Brasil, tomou uma atitude firme e determinou a reformulação do Biotônico Fontoura.
A principal mudança exigida foi a retirada completa do álcool de sua composição. A agência alegou que o teor alcoólico do medicamento representava um risco à saúde pública, especialmente para as crianças, que eram o principal público-alvo do produto.
Com a retirada do álcool, o Biotônico Fontoura perdeu uma parte da sua característica original, e a reformulação não foi bem recebida por todos. Apesar disso, o produto continuou sendo comercializado, mas sua popularidade começou a declinar.
A nova versão sem álcool não foi capaz de manter o mesmo apelo emocional e cultural que o Biotônico Fontoura tinha antes, e a evolução da medicina e dos tratamentos tornou o remédio menos procurado.
Biotônico Fontoura fora do Brasil
Curiosamente, o Biotônico Fontoura não foi apenas um fenômeno no Brasil. Durante o período da Lei Seca nos Estados Unidos, o produto foi exportado para o país e, em um movimento um tanto ousado, passou a ser comercializado como um “medicamento”, permitindo que as pessoas consumissem álcool legalmente em um contexto onde a bebida era proibida.
Isso revela até que ponto a popularidade e o status do Biotônico Fontoura ultrapassaram as fronteiras do Brasil e se tornaram um símbolo de resistência às leis de proibição de álcool.
Apesar disso, o Biotônico Fontoura ainda permanece na memória coletiva de muitas pessoas que cresceram nas décadas de 1990 e 2000. Para essas gerações, o remédio é parte de um legado cultural, um símbolo de uma época onde as soluções simples pareciam ser as mais eficazes.
Porém, a lição deixada pela história do Biotônico Fontoura é clara: a saúde pública deve sempre ser priorizada, e a regulação dos produtos para consumo é fundamental para garantir o bem-estar da população.