Nos últimos anos, a segurança no trânsito brasileiro tem sido uma das questões mais debatidas, especialmente devido aos elevados índices de acidentes envolvendo motoristas sob efeito de substâncias psicoativas.
A recente pesquisa realizada pelo Instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec) revela um cenário de apoio considerável por parte da população brasileira a medidas mais rigorosas na obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), com destaque para a ampliação do exame toxicológico.
O Projeto de Lei 3965/2021, que já foi aprovado no Senado e segue em análise na Câmara dos Deputados, propõe tornar o exame obrigatório para todos os motoristas que obtiverem a CNH pela primeira vez, independentemente da categoria que escolherem.
O que é o exame toxicológico e qual a sua importância?
O exame toxicológico é um procedimento que visa detectar a presença de substâncias psicoativas no organismo, como drogas ilícitas ou medicamentos que podem afetar a capacidade de conduzir de forma segura.
Ao contrário dos testes tradicionais de urina ou sangue, o exame toxicológico analisa amostras de cabelo, pelos ou unhas, sendo capaz de identificar o uso de substâncias nos últimos meses. Esse tipo de exame tem se mostrado mais eficaz, principalmente por sua capacidade de detecção prolongada.
Atualmente, a obrigatoriedade do exame toxicológico está restrita aos motoristas profissionais das categorias C, D e E, como os motoristas de caminhões, ônibus e vans.
Contudo, o Projeto de Lei 3965/2021 visa expandir essa exigência para todos os motoristas que tiram sua primeira habilitação, estabelecendo um controle mais rígido sobre o uso de drogas no trânsito e, consequentemente, buscando reduzir acidentes provocados por motoristas sob efeito de substâncias psicoativas.
Levantamento da pesquisa Ipec
A pesquisa realizada pelo Ipec revelou que 83% dos brasileiros entrevistados apoiam a expansão do exame toxicológico para todos os novos motoristas. O apoio é significativo em diversas faixas etárias, sendo mais expressivo entre pessoas com 60 anos ou mais, com 86% de aprovação.
Em termos de faixas de renda, as pessoas que ganham de 1 a 2 salários mínimos (85%) e as que recebem até 1 salário mínimo (84%) também demonstraram grande apoio à medida.
Esse levantamento reflete um sentimento crescente de preocupação com a segurança no trânsito e a vontade de adotar medidas que possam reduzir a violência nas estradas.
A ideia de incluir todos os novos motoristas na exigência do exame toxicológico é vista como uma forma de prevenir o uso de substâncias ilícitas por motoristas inexperientes, contribuindo para a redução de acidentes fatais, especialmente entre os mais jovens.
Por que ampliar o exame toxicológico é uma medida necessária?
A ampliação do exame toxicológico não é apenas uma questão de ampliar a fiscalização, mas também de prevenção. Segundo Marcio Liberbaum, presidente do Instituto de Tecnologias para o Trânsito Seguro (ITTS), essa medida ajudaria a combater o uso de drogas entre jovens, uma das principais causas de acidentes fatais no Brasil.
Dados da Global Burden of Disease revelam que acidentes de trânsito são uma das principais causas de morte entre jovens de 14 a 29 anos, sendo o uso de substâncias psicoativas um fator crítico para esses números.
Ao introduzir a obrigatoriedade do exame toxicológico para todos os novos motoristas, o Brasil daria um passo importante para a criação de uma cultura de segurança desde a formação do condutor.
Com a detecção precoce do uso de drogas, é possível impedir que motoristas inexperientes tenham acesso à direção, prevenindo acidentes que poderiam ser evitados com a medida.
Como o exame toxicológico contribui para a segurança viária?
O objetivo central do exame toxicológico é garantir que motoristas estejam em condições adequadas para dirigir, sem o risco de colocar a vida de outras pessoas em perigo.
Quando aplicado em motoristas profissionais, a obrigatoriedade do exame já mostrou resultados positivos, com redução nos índices de acidentes envolvendo caminhões, ônibus e vans.
A expansão dessa obrigatoriedade para todos os motoristas que obterem a CNH pela primeira vez visa garantir que, desde o início da sua experiência no trânsito, esses condutores adotem uma postura responsável e segura.
Além disso, o exame toxicológico também pode ajudar a coibir o uso de drogas de forma geral, atuando como um dissuasor para aqueles que possam pensar em utilizar substâncias psicoativas antes de dirigir.
Com um sistema de controle mais rigoroso, a expectativa é de que a consciência sobre a segurança no trânsito aumente, com motoristas mais cautelosos e preparados.
Desafios
Embora o apoio popular à medida seja importante, ainda existem desafios a serem superados. A aplicação do exame para todos os novos motoristas exigirá uma estrutura logística eficiente e um aumento na fiscalização para garantir a conformidade com a nova legislação.
Além disso, será necessário investir em campanhas educativas para sensibilizar a população sobre a importância da medida, destacando os benefícios da prevenção de acidentes e da promoção de um trânsito mais seguro.
Espera-se que a implementação dessa medida tenha um efeito positivo sobre a redução de acidentes fatais, especialmente entre jovens motoristas. Com o tempo, a medida pode gerar uma cultura de maior responsabilidade no trânsito e, potencialmente, inspirar outras nações a adotarem políticas semelhantes para aumentar a segurança viária.