Na terça-feira (15), uma ação policial na cidade de Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza, resultou na prisão de um homem de 54 anos, acusado de operar uma empresa clandestina de fornecimento de internet.
O empresário foi autuado em flagrante por exercer a atividade de provedor de internet sem a devida autorização legal. Este evento ocorre em um contexto de crescente violência no Ceará, onde facções criminosas estão atacando provedores de internet, pressionando as operadoras para que paguem taxas para a continuidade do serviço.
Crescimento do mercado clandestino de internet
Nos últimos meses, a crescente demanda por internet no estado do Ceará resultou na proliferação de empresas clandestinas oferecendo serviços de conexão à rede sem a devida regulamentação.
Embora o acesso à internet seja essencial para a vida cotidiana, especialmente em áreas periféricas e mais distantes, a falta de regulamentação cria um ambiente propício para ações ilícitas. Esses provedores não apenas oferecem um serviço essencial, mas também operam fora do controle das autoridades, tornando-se vulneráveis à exploração de facções criminosas.
O caso recente do empresário preso em Caucaia é um reflexo dessa situação, onde o fornecimento de internet ilegal não apenas coloca em risco a qualidade do serviço prestado, mas também expõe a população à violência e à exploração de grupos criminosos.
Ataques de facções criminosas ao setor de internet
A segurança pública do Ceará tem enfrentado uma escalada de ataques a provedores de internet, especialmente desde fevereiro de 2025, quando membros do Comando Vermelho, uma facção criminosa com forte presença no estado, começaram a realizar ações violentas contra empresas do setor.
Os criminosos exigem o pagamento de uma “taxa” para garantir que os serviços de internet não sejam interrompidos, colocando uma pressão insustentável sobre as operadoras locais.
As cidades mais afetadas por esses ataques incluem Fortaleza, Caucaia, São Gonçalo do Amarante e Caridade. Nestes locais, diversas empresas de internet foram obrigadas a interromper seus serviços, gerando um caos nas comunidades que dependem desse serviço para comunicação, trabalho e acesso à informação.
A facção utiliza essa cobrança como uma forma de financiar suas operações criminosas e controlar a oferta de serviços essenciais na região.
Impacto da violência no setor de provedores
A violência gerada pelos ataques de facções não se limita à destruição física dos equipamentos, mas também tem impactos econômicos e sociais significativos. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Ceará, os ataques causaram um prejuízo estimado de R$ 1 milhão, além de ter levado empresas a encerrar suas atividades, como foi o caso de cinco delas.
Isso resultou na diminuição da oferta de serviços de internet em bairros periféricos e no interior do estado, deixando a população vulnerável a quedas de qualidade e acessibilidade.
Além disso, a relação entre as facções e as empresas de internet clandestinas aumenta ainda mais a complexidade do problema, tornando a regulação do setor um desafio. Muitas dessas empresas operam sem qualquer tipo de controle, dificultando a fiscalização e o combate ao crime organizado.
Resposta das autoridades
A resposta das autoridades de segurança pública tem sido robusta, com a realização de operações como a “Strike”, que já cumpriu três fases e resultou na prisão de dezenas de criminosos envolvidos no tráfico de internet clandestina.
A operação tem como objetivo não apenas prender os responsáveis pelos ataques e pela comercialização ilegal de serviços de internet, mas também interromper a cadeia de fornecimento de equipamentos utilizados por essas empresas clandestinas.
Até o momento, 51 pessoas foram presas, e diversas apreensões de aparelhos celulares e equipamentos eletrônicos ilegais foram realizadas. Essas ações fazem parte do programa “Ceará contra o Crime”, que visa combater o tráfico de drogas, as facções criminosas e a exploração ilegal de serviços essenciais, como a internet.
A Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) da Polícia Civil tem coordenado as investigações, focando não só nas prisões, mas também na interdição de empresas ilegais e na rastreabilidade dos lucros obtidos com a exploração ilegal da internet.
Desafio da regulação e da segurança pública
A prisão do dono da empresa clandestina de internet em Caucaia é um marco importante, mas não resolve por completo o problema da segurança no setor. O Estado do Ceará enfrenta o desafio de regulamentar e controlar o fornecimento de internet em um ambiente onde o crime organizado tem grande poder de influência.
Além disso, a pressão sobre as operadoras de internet para que paguem “taxas” de proteção é uma realidade que precisa ser combatida de forma mais agressiva.
As forças de segurança devem continuar o trabalho de fiscalização e desmantelamento das redes criminosas, enquanto as autoridades responsáveis pela regulação do setor de telecomunicações precisam intensificar os esforços para garantir que o serviço de internet seja oferecido de maneira legal e segura para todos os cidadãos, sem a interferência de facções criminosas.
O Estado deve continuar investindo em ações integradas de fiscalização e enfrentamento ao crime organizado, enquanto também trabalha para garantir que o acesso à internet seja seguro, regulamentado e livre de violência.