Algumas feridas não cicatrizam por completo, tornando-se crônicas e provocando sofrimento tanto físico quanto emocional. Além da dor e do incômodo, algumas exalam um odor desagradável devido ao líquido que escorre. “Se a lesão não apresentar melhora nas primeiras semanas e suas bordas não se aproximarem, há risco de se tornar crônica“, afirma a enfermeira Chayane de Carvalho, em entrevista ao VivaBem (UOL).
As feridas crônicas podem seguir diferentes trajetórias: algumas permanecem estáveis, enquanto outras sofrem inflamações e infecções que agravam o quadro. O envelhecimento, aliado a problemas circulatórios e ao sedentarismo, favorece o surgimento de úlceras venosas, que dificultam a cicatrização. Já em pacientes com câncer, a remoção do tumor pode exigir a retirada de grandes porções de tecido, tornando a regeneração desafiadora, mesmo com enxertos.
Cura de feridas
Para encontrar novas soluções, Chayane se associou à professora Beatriz Luci Fernandes, da PUC do Paraná, para experimentar um tratamento inovador com fibrina, uma proteína retirada do sangue do próprio paciente e repleta de elementos que favorecem a cicatrização.
No estudo, desenvolvido no mestrado da enfermeira, um paciente que convivia há 11 anos com uma ferida aberta se recuperou após três meses de tratamento semanal com a membrana de fibrina. Outros dois, com lesões decorrentes de câncer, também tiveram melhora. Apesar do número reduzido de participantes, os resultados encorajaram a expansão da pesquisa para incluir feridas crônicas de diferentes causas.
Uso do próprio sangue
A aplicação da fibrina como curativo já é utilizada na Odontologia, mas a professora Beatriz Fernandes trouxe a técnica para o mestrado de Chayane, adaptando-a para feridas externas. O procedimento consiste em extrair a fibrina do sangue do próprio paciente por meio de centrifugação. A membrana obtida, repleta de substâncias que favorecem a cicatrização, é cuidadosamente posicionada nas áreas com maior potencial de regeneração, após uma limpeza minuciosa da ferida.
O processo é concluído com uma leve compressão e a aplicação de uma tela protetora. A pesquisa agora se expande para incluir mais pacientes, embora a busca por voluntários ainda seja um desafio. Caso os resultados se confirmem, a técnica pode se tornar uma opção promissora no tratamento de feridas crônicas.