Nos últimos anos, a biometria facial tem se consolidado como uma das tecnologias mais confiáveis para garantir a segurança digital. Sua aplicação é vasta, abrangendo desde o desbloqueio de dispositivos até a assinatura de documentos e autenticação de transações bancárias.
No entanto, como qualquer inovação tecnológica, a biometria facial tem sido explorada de forma criminosa, comprometendo a segurança de indivíduos e instituições financeiras. Estelionatários, cada vez mais sofisticados, estão utilizando essa tecnologia para cometer fraudes, enganando vítimas e abrindo caminho para golpes em diversas partes do Brasil.
Biometria facial
A biometria facial foi criada para garantir a autenticidade na identificação das pessoas, proporcionando maior proteção e conveniência. Ela se baseia em um mapeamento preciso das características faciais, o que torna quase impossível a falsificação.
Por ser um dado único e personalíssimo, o rosto passou a ser considerado uma chave de segurança em diversos contextos, como acessos bancários, pagamentos online e, mais recentemente, para assinatura de documentos.
No entanto, o que deveria ser um mecanismo de segurança tem sido usado de maneira perversa. “O rosto hoje é a senha. Ela é a porta de entrada. Ela é a chave para abrir a sua conta bancária, para abrir diversas aplicações que você tem por aí”, afirma o especialista em cibersegurança Álvaro Massad Martins.
E é exatamente isso que criminosos têm explorado: a facilidade de uso dessa tecnologia para roubar informações sensíveis e causar prejuízos financeiros.
Como funcionam os golpes de biometria facial?
Em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, criminosos se disfarçam de agentes de saúde para enganar vítimas. Elas afirmam que a visita domiciliar tem como objetivo antecipar procedimentos médicos pelo SUS.
Durante a visita, as golpistas pedem para tirar uma foto da vítima, alegando que isso é necessário para o processo. No entanto, o que está em jogo é o reconhecimento facial, que será usado para desbloquear empréstimos consignados em nome da vítima. Sem perceberem o golpe, muitas vítimas acabam endividadas sem saber como suspender os descontos de seus salários.
Outra forma de aplicar golpes com a biometria facial envolve promessas de emprego. Em diversos estados do Brasil, criminosos têm se passado por recrutadores de empresas, pedindo fotos das vítimas durante entrevistas de emprego.
Em vez de registrar uma simples imagem, a foto é usada para capturar a biometria facial, o que permite aos golpistas realizar transações financeiras em nome da vítima.
Um caso notório ocorreu em Florianópolis, onde um golpista enganou um candidato a motorista, fazendo com que ele acreditasse que estava apenas sendo cadastrado para a vaga. Quando o indivíduo percebeu, um carro no valor de R$ 69 mil foi financiado em seu nome, sem que ele tivesse conhecimento do processo.
Além dos exemplos de falsos agentes de saúde e promessas de emprego, outra tática usada pelos criminosos é a realização de transações de crédito utilizando os dados biométricos obtidos. Em Guarapuava, no Paraná, uma mulher foi vítima de um golpe semelhante.
Durante uma entrevista de emprego, o golpista pediu para tirar uma foto dela, que foi utilizada para financiar um carro no valor de R$ 170 mil. Em situações como essa, os criminosos geralmente conseguem aprovar financiamentos e empréstimos, que acabam sendo pagos pelas vítimas sem que estas percebam o golpe.
Impacto e as consequências dos golpes
A crescente utilização da biometria facial para fraudes tem gerado grandes prejuízos tanto para as vítimas quanto para os bancos e instituições financeiras. Apesar de a tecnologia em si ser considerada segura, a vulnerabilidade está na maneira como as informações são capturadas e manipuladas.
As vítimas enfrentam o desafio de provar que não autorizaram tais transações, e muitas vezes se veem impossibilitadas de suspender os pagamentos dos empréstimos ou financiamentos, resultando em longos períodos de sofrimento financeiro.
A Polícia Civil tem investigado diversos casos e realizado prisões, como no caso das duas criminosas que se passavam por agentes de saúde em São Bernardo do Campo.
No entanto, a dificuldade de identificar todos os envolvidos no processo e o anonimato proporcionado pela internet tornam o combate a esses crimes um grande desafio.
Instituições bancárias
Uma das grandes preocupações em relação ao golpe da biometria facial é a falha no sistema de autenticação bancária. As instituições financeiras devem revisar suas políticas de segurança, já que muitos desses crimes ocorrem dentro de suas plataformas digitais.
De acordo com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), cada instituição financeira adota políticas próprias de análise e devolução de valores, mas o que se observa é que, na maioria das vezes, as vítimas não conseguem reverter o prejuízo de forma imediata.
Prevenção e cuidados
A conscientização é fundamental para evitar que mais pessoas caiam nesses golpes. O primeiro passo é estar alerta a qualquer solicitação de fotos ou coleta de dados pessoais, especialmente em contextos que não parecem ser legítimos, como visitas inesperadas ou promessas de emprego.
Além disso, as autoridades e os bancos devem intensificar as medidas de segurança digital, como a autenticação em múltiplos fatores e o monitoramento constante de transações suspeitas.
O mais importante é entender que a biometria facial, embora seja uma ferramenta eficaz de segurança, também apresenta riscos quando usada de forma inadequada. A vigilância e o uso consciente dessa tecnologia são essenciais para evitar que ela se torne uma porta aberta para fraudes.
