Uma investigação conduzida pela Folha de S.Paulo revelou um problema alarmante na estratégia da Prefeitura de São Paulo para conter a dengue.
Segundo a reportagem, as armadilhas instaladas para reduzir a população do Aedes aegypti, mosquito transmissor da doença, têm se transformado, na prática, em criadouros do próprio vetor.
O motivo principal é a falta de manutenção regular, essencial para garantir a eficácia dos dispositivos. Sem a reposição adequada do larvicida, os equipamentos acabam acumulando água parada e favorecendo a proliferação dos insetos.
Criadouros de dengues estão sendo criados por armadilhas da prefeitura
As armadilhas para o mosquito da dengue em questão foram adquiridas pela gestão municipal por R$ 400 cada, totalizando mais de 20 mil unidades espalhadas pela cidade.
Segundo o fabricante, a manutenção deveria ser realizada mensalmente ou, no máximo, a cada dois meses.
No entanto, diversos relatos de moradores entrevistados pelo jornal apontam que esse prazo tem sido amplamente descumprido.
Há casos em que os dispositivos permaneceram sem qualquer tipo de reposição de larvicida por até seis meses, tornando-se potenciais focos de reprodução para os mosquitos da dengue.
Moradores de diferentes regiões da capital, entrevistados pela reportagem, afirmam que muitos chegaram a devolver as armadilhas à prefeitura após perceberem o efeito contrário ao esperado.
O problema também foi constatado em locais públicos, como escolas, onde a ausência de manutenção tem sido uma preocupação recorrente.
Além disso, agentes de endemias relataram que a cidade carece de profissionais suficientes para executar o serviço de monitoramento e reposição do produto químico nos dispositivos.
MP investiga gastos com armadilhas para o mosquito da dengue e prefeitura se manifesta
Os gastos com a aquisição e manutenção dessas armadilhas para o mosquito da dengue ultrapassam os R$ 35 milhões e se tornaram alvo de investigação do Ministério Público (MPSP).
A suspeita de irregularidades levou à abertura de um inquérito civil para apurar possíveis atos de improbidade administrativa por parte da prefeitura.
Além disso, a Controladoria Geral do Município conduz uma sindicância para verificar se o aumento na população de mosquitos está relacionado às falhas na gestão dos equipamentos.
A Secretaria Municipal de Saúde defende a iniciativa e sustenta que houve uma redução de 20% nos casos de dengue nas áreas onde as armadilhas foram instaladas.
No entanto, a pasta não apresentou informações detalhadas sobre a metodologia utilizada para chegar a essa conclusão.
A prefeitura também argumenta que o inseticida presente nos dispositivos tem efeito residual de até 180 dias, minimizando o impacto da falta de manutenção.
Contudo, especialistas alertam que, sem acompanhamento adequado, qualquer armadilha pode se tornar um risco à saúde pública, agravando ainda mais a situação epidemiológica da cidade.