Um ambicioso projeto para a construção de um novo porto no município de Arroio do Sal, no litoral norte do Rio Grande do Sul, tem gerado apreensão entre cientistas, ambientalistas e parte da sociedade civil.
Batizado de Porto Meridional, o empreendimento é promovido por empresários e autoridades como uma promessa de modernização logística e impulso à economia gaúcha.
No entanto, especialistas da área ambiental e acadêmica alertam para riscos socioambientais graves e contestam a real necessidade da obra.
Construção de porto bilionário deixa pesquisadores preocupados
O projeto prevê a construção de um porto oceânico voltado à movimentação de cargas diversas — incluindo granéis sólidos, líquidos, carga geral e contêineres.
A estimativa de investimento inicial gira em torno de R$ 1,3 bilhão, com expectativa de geração de milhares de empregos diretos e indiretos.
A proposta tem o apoio de setores produtivos da Serra Gaúcha, que enfrentam dificuldades logísticas para exportar seus produtos por meio dos portos já existentes em Rio Grande, ao sul do estado, ou em Imbituba, em Santa Catarina.
Para os defensores da obra, a nova estrutura permitirá maior competitividade, redução de custos logísticos e atração de novos investimentos, tornando o Rio Grande do Sul mais eficiente na sua integração aos mercados internacionais.
Autoridades do governo federal também têm se posicionado a favor da iniciativa.
O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, afirma que o porto será estratégico para o desenvolvimento da infraestrutura do estado, e contribuirá para diversificar a matriz econômica regional.
Durante a assinatura do contrato de adesão com a empresa responsável, realizada em outubro de 2024, representantes do governo enfatizaram a relevância do projeto para a geração de empregos e para o fortalecimento da cadeia produtiva gaúcha.
Pesquisadores temem que obras do Porto prejudiquem o meio ambiente na área
Mas, apesar do discurso otimista, a proposta tem enfrentado forte resistência por parte da comunidade científica e de organizações ambientalistas.
Entre os principais pontos de preocupação estão os impactos sobre ecossistemas costeiros frágeis, a falta de clareza no processo de licenciamento e a ausência de debate público qualificado.
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) destacam que a região escolhida para o porto abriga áreas de restinga, fauna marinha ameaçada e locais arqueológicos com mais de três mil anos.
Além disso, apontam que os efeitos da construção de um quebra-mar de grandes dimensões e da dragagem necessária podem provocar alterações significativas no equilíbrio sedimentar da costa, intensificando a erosão e ameaçando comunidades urbanas próximas.
O Instituto Curicaca, que atua há décadas no litoral norte gaúcho, também questiona a viabilidade do empreendimento.
Para seus técnicos, o projeto fragmenta o licenciamento ambiental e negligencia o impacto cumulativo de outras obras associadas, como alterações na Rota do Sol e a construção de pontes sobre a Lagoa de Itapeva.
Segundo eles, essas mudanças somadas podem comprometer a biodiversidade local e afetar atividades tradicionais, como a pesca artesanal.
Outra crítica recorrente entre os opositores é a falta de necessidade logística de um novo porto.
Especialistas lembram que os portos de Rio Grande e Imbituba são suficientes para atender à demanda atual da região e que investimentos na melhoria da infraestrutura existente seriam mais eficazes e sustentáveis.
Para muitos, o Porto Meridional representa mais um exemplo de desenvolvimento mal planejado, conduzido sob pressão política e sem transparência, com potencial de causar danos irreversíveis ao meio ambiente e à vida local.