Ao longo da história, pessoas LGBTQIA+ das mais variadas profissões, inclusive marinheiros, enfrentaram perseguições que muitas vezes ultrapassaram os limites da crueldade.
Um dos casos mais impactantes — e menos conhecidos — remonta ao século 18, quando um marinheiro holandês foi deliberadamente deixado para morrer em uma ilha remota no meio do Atlântico, punido por sua orientação sexual.
A história, esquecida por séculos, ressurgiu graças ao trabalho de historiadores que se dedicaram a reconstruir esse trágico episódio.
Conheça o marinheiro que foi abandonado para morrer em uma ilha
O nome do marinheiro era Leendert Hasenbosch. Nascido em Haia, em 1695, ele serviu por anos à poderosa Companhia Holandesa das Índias Orientais, a VOC.
O jovem iniciou sua carreira como soldado e posteriormente se tornou contador — um cargo de confiança dentro da organização. Em 1724, ele embarcou em uma jornada de retorno à Europa, mas nunca chegou ao destino final.
Durante a travessia, foi acusado de sodomia, uma ofensa considerada gravíssima à época, e por isso recebeu uma sentença incomum: foi exilado vivo na Ilha de Ascensão, localizada entre a África e a América do Sul, um território árido e praticamente inabitável.
Hasenbosch foi deixado com poucos recursos — uma barraca, uma bíblia, algumas sementes e quase nenhuma água.
Em desespero, manteve um diário onde relatava sua luta diária por sobrevivência, registrando suas tentativas de cultivar alimentos, a solidão extrema e até a busca por conforto em um pássaro que tentou domesticar.
Aos poucos, a escassez de água e comida o levou a medidas desesperadas, como beber sua própria urina e o sangue de tartarugas. Suas anotações cessam em outubro de 1725. Ele provavelmente morreu pouco tempo depois.
História do marinheiro passa a ser contada da maneira correta
Décadas e séculos se passaram até que seu diário, inicialmente publicado de forma anônima e distorcida na Inglaterra, fosse conectado à verdadeira identidade de Hasenbosch.
Pesquisadores como Michiel Koolbergen e Alex Ritsema foram fundamentais para revelar sua história, transformando o marinheiro esquecido em símbolo de um passado brutal e ainda muito relevante.
Em tempos em que direitos LGBTQIA+ ainda são ameaçados em diversas partes do mundo, o caso de Leendert Hasenbosch serve como alerta. A perseguição, agora revestida por discursos políticos ou leis conservadoras, continua sendo uma realidade.
A história desse marinheiro abandonado ecoa como um lembrete de que a intolerância, mesmo camuflada, ainda persiste — e deve ser enfrentada.