A vinheta do Supercine é um exemplo clássico de como o design audiovisual pode manipular nossas emoções de maneira estratégica e quase imperceptível. Uma mistura de jazz, nostalgia e até mesmo elementos mais sombrios torna essa vinheta uma verdadeira obra-prima de manipulação emocional.
A criação dessa vinheta, como muitas outras produções de Hans Donner, é o reflexo de uma mente visionária que transformou a programação televisiva brasileira e o design gráfico, criando atmosferas imersivas que tocavam o público de forma profunda e inesquecível.
Hans Donner
Hans Donner nasceu na Alemanha em 1948 e, mais tarde, foi viver na Áustria. Com um olhar aguçado para o design, ele se envolve rapidamente com o mundo da publicidade e da comunicação visual.
Contudo, foi apenas em 1974, ao ver uma reportagem sobre design publicitário produzido por profissionais brasileiros, que ele decidiu mudar sua vida. Apaixonado pelo que viu, Donner tomou uma decisão radical de se mudar para o Brasil, onde uma revolução do design estava prestes a começar.
Chegada ao Brasil e a transformação da Globo
Na época, a Rede Globo não possuía um departamento de arte, e as aberturas dos programas eram terceirizadas para empresas especializadas. Walter Clark, então diretor-geral da Globo, reconheceu o talento de Hans Donner ao observar seu trabalho e não hesitou em contratá-lo imediatamente.
Em 1975, Donner desembarcou no Brasil com a missão de criar a nova marca da Globo e, logo depois, fundou o departamento de videografia da emissora, o responsável por toda a programação visual da empresa, abrangendo desde novelas até de humor e esporte.
Hans Donner revolucionou o design brasileiro ao unir a inovação tecnológica com uma abordagem criativa e ousada. Ele foi pioneiro no uso de tecnologias 3D, formas geométricas e a fusão de live action com animações, uma forma de visualização que faz com que o público se sinta parte da ação. O impacto dessa revolução foi profundo e duradouro, tornando-se uma marca registrada das produções da Globo, especialmente nas vinhas e aberturas de programas.
Jazz, nostalgia e emoção
A vinheta do Supercine, criada por Donner, é uma das mais populares de sua carreira. Ao misturar elementos sonoros como o jazz, com seu ritmo envolvente e sofisticação, e uma aura de nostalgia, a vinheta criava uma atmosfera que já evocava sentimentos antes mesmo do filme começar. O uso do jazz, com suas improvisações e notas melancólicas, provoca uma sensação de que algo especial está prestes a acontecer, criando uma expectativa emocional no espectador.
Mas o que torna essa vinheta ainda mais intrigante é a capacidade de tocar em uma parte mais obscura da psique humana. Algumas análises afirmam que há uma conexão sutil com o “capiroto”, ou seja, uma sensação de tensão e mistério, algo que se entrelaça com o imaginário coletivo e com os filmes de terror ou suspense que frequentemente passam na sessão Supercine. O jogo entre o melancólico e o sombrio mexe com a emoção do público de forma quase imperceptível, levando-o a ficar completamente imerso na experiência da vinheta.
O que torna a vinheta do Supercine tão eficaz em manipular as emoções é a forma como todos esses elementos (música, imagem e ritmo) trabalham juntos para criar uma experiência sensorial única. A cada acorde de jazz, o espectador é levado a um estado de tradição. As formas geométricas e as transições visuais que surgem rapidamente acompanham o ritmo da música, criando uma sensação de aceleração, como se algo importante acontecesse.
Ao mesmo tempo, a nostalgia trazida pelas imagens e pela melodia evoca lembranças e sentimentos que podem ser profundos, como se a vinheta estivesse conectando algo da infância ou das experiências passadas do público com aquele momento. Por fim, a tensão gerada pela mistura desses elementos, incluindo o “capiroto”, cria uma dualidade emocional, fazendo o espectador se sentir tanto atraído quanto desconfortável, ansioso para o que vem a seguir.