A crise climática deixou de ser um alerta futuro para se tornar uma realidade presente e crescente. Durante um recente evento promovido pela Rede Técnica Cooperativa (RTC), em Gramado (RS), o engenheiro florestal Marcos Kazmierczak fez um diagnóstico direto: estamos vivendo uma emergência climática.
Os próximos 15 anos serão determinantes, não para evitar o colapso, mas para mitigar seus efeitos mais severos.
Kazmierczak não amenizou a situação. Ele afirma que, para reverter o aquecimento global, seria necessário reduzir em 87% as emissões de dióxido de carbono, algo que, segundo ele, não vai acontecer.
Isso nos coloca numa posição delicada: não há mais como evitar os efeitos drásticos, apenas como se adaptar a eles. O cenário é de urgência. Esperar mais 80 anos para novos desastres climáticos já não é realista. O impacto está batendo à porta com frequência e força redobrada.
Previsões até 2040
As projeções climáticas até 2040 mostram um aumento da precipitação, mas de forma desigual e imprevisível. Isso significa chuvas extremas em alguns lugares e períodos prolongados de seca em outros.
O número de dias secos consecutivos poderá saltar de 40 para até 90 dias de calor intenso, o que comprometerá diretamente a produção agrícola, o abastecimento hídrico e a saúde humana.
Além disso, os eventos extremos, como temporais, enchentes e vendavais, se tornarão mais frequentes e mais severos. No Rio Grande do Sul, por exemplo, 491 municípios devem enfrentar esse novo padrão climático hostil.
Impacto direto na agricultura e na produção animal
O agro brasileiro, especialmente no Sul, será profundamente afetado. Segundo Kazmierczak:
- A fotossíntese será prejudicada;
- A produção de leite e de frangos pode sofrer reduções drásticas de produtividade;
- O arroz, cultura essencial, poderá perder entre 4% e 6% de rendimento até 2040, por falta de água para irrigação.
Isso reflete a vulnerabilidade da cadeia produtiva rural, que depende de estabilidade climática para operar.
Números assustadores
Entre 1994 e 2023, o aumento de eventos climáticos extremos no Brasil foi de 225,76%, e no Rio Grande do Sul, 190,77%. Mais impressionante ainda é o impacto socioeconômico:
- O número de habitações afetadas cresceu 653,65% no país;
- Os prejuízos somados chegaram a R$ 1,17 trilhão;
- No Rio Grande do Sul, as perdas foram ainda mais devastadoras: aumento de 4.519,64% nas moradias afetadas e um prejuízo de R$ 1,32 trilhão.
Esses dados revelam o preço real, humano e financeiro, da crise climática.
O que podemos fazer?
Apesar da gravidade do cenário, há caminhos possíveis, embora limitados. Kazmierczak apresentou medidas de redução, destacando as mais importantes:
- Melhorar a saúde do solo, aumentando o teor de carbono em 3%;
- Reduzir o uso de fertilizantes nitrogenados;
- Diminuir o consumo de carne bovina em 25% até 2030 e 50% até 2050;
- Cortar pela metade as emissões de metano e óxido nitroso na produção de arroz;
- Reduzir o desperdício de alimentos de 33% para 10% até 2050.
Contudo, ele é cético sobre a viabilidade de todas essas ações, com exceção da melhoria do solo. Por isso, destaca que o mais urgente agora é investir em adaptação.
Estratégias de adaptação
A adaptação deve ser o pilar da resposta à crise. Entre as estratégias viáveis estão:
- Desenvolvimento de cultivares resilientes às novas condições climáticas;
- Gestão integrada de recursos hídricos;
- Programas de transferência de tecnologia e assistência técnica específica para pequenos e médios produtores.
O arroz, por exemplo, precisará de novas variedades adaptadas ao calor e à escassez de água. A agricultura familiar dependerá de conhecimento técnico acessível e políticas públicas bem direcionadas para sobreviver ao novo cenário climático.
O mundo tem pouco mais de uma década para preparar-se, adaptar-se e tentar reduzir os impactos mais severos. Ignorar essa realidade é um risco que nenhum país, empresa ou cidadão pode se dar ao luxo de correr.