Diante do atraso crescente na formação dos cientistas brasileiros, as universidades demonstram preocupação com a diminuição do período produtivo desses profissionais. Para reduzir esse tempo, começam a promover, em parceria com agências de fomento, a entrada direta no doutorado logo após a graduação.
Embora essa estratégia já esteja consolidada nas áreas de exatas, ainda enfrenta resistência em cursos de humanas e apresenta dificuldades curriculares na medicina. Marco Antonio Zago, médico e presidente da Fapesp — uma das principais agências de fomento do país —, ressalta que o mestrado não precisa ser uma etapa obrigatória antes do doutorado.
Avanço direto para o doutorado
Neste ano, a Fapesp e a Capes estabeleceram um acordo com universidades públicas paulistas para incentivar a entrada direta no doutorado, oferecendo complementação nas bolsas para que alcancem o valor pago pela Fapesp. O programa conta com um investimento de R$ 300 milhões para a concessão de até 184 bolsas anuais, sendo metade destinada à USP.
A iniciativa permite que até um terço dos estudantes de mestrado possam migrar para o doutorado após o primeiro ano do curso. A ação busca enfrentar o problema do prolongado tempo de formação dos doutores no Brasil, que atualmente obtêm o diploma em média aos 38 anos, quase dez anos mais tarde do que em períodos anteriores.
Obstáculos
Zago destaca que a criatividade científica é mais intensa no início da carreira, quando os pesquisadores têm maior liberdade para inovar e assumir riscos. Alguns cursos já refletem essa perspectiva, como a Ilum, escola federal de ciências que prepara seus alunos para ingressar diretamente no doutorado, oferecendo imersões em laboratórios e incentivando a pesquisa desde a graduação. Entre os 36 formandos da primeira turma, 12 foram direto para programas de doutorado, inclusive em instituições internacionais.
Na área médica, o avanço direto para o doutorado enfrenta mais obstáculos devido à obrigatoriedade da residência médica, etapa essencial da formação prática. Já nas ciências humanas, o tempo de formação é maior por conta da densidade teórica exigida. O novo protocolo firmado entre as agências de fomento visa contemplar todas as áreas, mas ainda é uma iniciativa experimental que depende da adesão e aceitação da comunidade acadêmica.