Pesquisadores do projeto Amazônia Revelada, com apoio da National Geographic, do Inpe, do MapBiomas e do Museu da Amazônia, anunciaram a descoberta de uma cidade e uma vila do século 18 em plena Floresta Amazônica, no estado de Rondônia.
O achado histórico foi possível graças ao uso da tecnologia Lidar, um sensor de detecção a laser, acoplada a aeronaves que sobrevoaram áreas densas da mata.
A cidade, batizada de Lamego, teria abrigado cerca de 300 pessoas, entre colonizadores portugueses e pessoas escravizadas, tanto indígenas quanto africanas. A localização exata do local era desconhecida até então, embora houvesse registros históricos da sua existência.
O sítio está próximo ao quilombo Real Forte do Príncipe da Beira, em Costa Marques, na fronteira com a Bolívia. A descoberta reforça a importância da interação entre tecnologia de ponta e o saber tradicional das comunidades locais.
A cidade esquecida nas margens da fronteira
Lamego foi um centro estratégico de abastecimento para a antiga capital da província de Mato Grosso, Vila Bela da Santíssima Trindade, e para a fortificação do Real Forte do Príncipe da Beira. Estima-se que existiam 15 casas, construídas com técnicas como pau a pique e em formatos semelhantes a malocas, espalhadas ao longo de traçados urbanos ainda visíveis.
Além da cidade, também foi localizada a vila de Bragança, a cerca de 8 km, com evidências de ruas, oficinas e residências. Outra região de interesse é o Labirinto, estrutura de pedras que teria servido como guarda militar portuguesa.
Geoglifos indígenas também foram detectados na área, indicando que a ocupação do território é anterior à chegada dos colonizadores europeus.
Tecnologia e preservação cultural caminham juntas
Vale mencionar que os dados levantados pelo Lidar representam apenas 3,1% da área total da Amazônia Legal. Isso indica um vasto potencial de descobertas ainda escondidas sob a vegetação da floresta. Com isso, o Amazônia Revelada busca não apenas mapear esses sítios, mas também propor sua proteção legal como patrimônio histórico e cultural.
É importante mencionar que parte dessas áreas está sob ameaça, devido ao avanço do desmatamento, incêndios e atividades ilegais como o garimpo. Em setembro de 2024, Rondônia registrou o maior número de queimadas em 14 anos, afetando inclusive o território quilombola do Forte do Príncipe da Beira.