Nos supermercados, a prática de oferecer produtos ultraprocessados como se fossem versões tradicionais tem se tornado cada vez mais comum, enganando consumidores desatentos. Um exemplo pode ser visto no Choco Biscuit da Bauducco que é vendido em embalagens idênticas pelo mesmo preço, mas com composições diferentes: uma versão contém chocolate real, enquanto a outra tem apenas uma cobertura artificial rotulada como “sabor chocolate ao leite”.
A distinção não é apenas no nome. O gastrólogo Davi Laranjeira explica que produtos com a indicação “sabor chocolate” não possuem chocolate real em sua composição. “São basicamente uma mistura de açúcar, gordura hidrogenada e aditivos químicos que imitam o sabor do chocolate, mas sem seu valor nutricional“, afirma.
Produtos lácteos adulterados
O mesmo ocorre com diversos produtos lácteos. Para reduzir custos, fabricantes lançaram versões alternativas de leite em pó, iogurte, requeijão e leite UHT, muitas delas contendo soro de leite e amido. Sem uma diferenciação evidente nas embalagens, esses produtos podem confundir os consumidores.
Empresas como Nestlé, Quatá e Mococa justificam as mudanças pela crise econômica e dizem seguir as normas do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), mas especialistas apontam possível propaganda enganosa. A falta de transparência nos rótulos gerou críticas e levou o Procon-SP a notificar fabricantes.
Outra mudança que se destacou foi a introdução da muçarela processada, que mantém a aparência da versão tradicional, mas apresenta uma composição distinta. Além do leite, sua fórmula inclui fécula de batata e aditivos químicos. Mesmo com qualidade inferior ao produto original, essa alternativa chega ao mercado com um preço mais alto.
Café e azeite falsos
O café também passou a integrar a lista dos chamados “produtos fake”. Com a alta nos preços do café torrado e moído, surgiram no mercado opções identificadas como “sabor café“, que não contêm o grão tradicional. De acordo com Celírio Inácio da Silva, da Abic, esses produtos iludem os consumidores ao substituir o café puro por pós produzidos a partir de cascas, palha e folhas.
Os azeites de oliva também foram afetados pelo problema. O Mapa alertou sobre mais 12 marcas desclassificadas por fraude, após análises detectarem a presença de óleos vegetais não identificados em sua composição, comprometendo a qualidade e oferecendo riscos à saúde.
Nesse contexto, especialistas destacam a necessidade de os consumidores verificarem os rótulos com atenção e questionarem produtos que alegam manter a mesma qualidade por um preço menor.